tag:blogger.com,1999:blog-45634918844368769942024-02-15T06:48:06.644+00:00Colchão de ÁguaBulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.comBlogger157125tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-15256118417875460232014-10-15T20:35:00.000+01:002014-10-15T20:44:31.429+01:00Desculpem, mas não temos açucar mascavado.<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
Poucos programas me cativam tanto como uma casa cheia de
gente. Almoços que se prolongam por lanches e que merecem uma breve ceia de
aconchego ao jantar. As pessoas como o prato principal de qualquer serão. Loucos
são aqueles que ignoram semelhante iguaria. Receber pessoas em casa é para mim
um verdadeiro privilégio. Optar pela minha casa é recusar o parque infantil de
mil aventuras possíveis que é o mundo. Como poderia não dedicar-me a quem optou
pela minha casa? Sou um anfitrião cuidadoso e atento. Principalmente humilde,
porque apesar da fortuna de uma funda, sei bem o quão difícil é reunir os
nossos afectos, quando esse Golias mundo ronda a todo o instante. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Existe a crença que o melhor das viagens é na verdade o
regresso a casa. Não significa que a viagem em si, seja a constante tomada de
consciência desse facto. Se assim o fosse, seria certamente um desperdício de
tempo. Eu sou um sortudo pelos inúmeros regressos que realizei. Por alguma
razão, e já o referi neste blog, a minha casa poderia ser o <a href="http://colchaodeagua.blogspot.pt/2008/02/rampa-de-lanamento.html" target="_blank">átrio das chegadas</a>
de um aeroporto. É o meu local preferido do mundo e apenas teria de arranjar um
forma de, também aí, receber quem mais gosto. Vejo cada regresso como algo
mágico e especial. Pouca importa a distância ou natureza da viagem.</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<a name='more'></a><br />
No passado fim-de-semana fomos para fora. O tempo não ajudou,
mas a melhor sericaia da década foi raio de sol por entre nuvens cinzentas. As
praias mais selvagens do que nunca, um percurso pedestre para o futuro e a
alegria ao encontrar um determinado pacote de açúcar. Inúmeras nacionalidades a
trabalhar nas estufas; a curiosidade da vida dentro de uma autocaravana; uma
gata branca a querer vir para Lisboa. O Alentejo fica para trás, é tempo de
regressar a casa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Chegado ao quarto, uma grande surpresa: um batalhão de
formigas deambulava despreocupadamente pelo soalho. A origem do carreiro
parecia estar debaixo do rodapé imediatamente colado ao armário dos sapatos,
mas quanto ao destino das formigas, todo um mistério. Não tenho por hábito pisar muitos
rebuçados (a dieta canina não os inclui) e por isso, não consigo compreender o
que levou as formigas a aparecer naquele local. Mas isso também não é relevante
e o que importa aqui realçar é a espontaneidade do gesto. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Naturalmente que lhes cederia de bom grado a casa para o
fim-de-semana, mas enquanto bom anfitrião, gostaria de pelo menos ter deixado uma
nota de boas-vindas:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white;"><span style="color: #20124d;">Experimentem o mel de rosmaninho que está na segunda
prateleira. Deixamos umas migalhas de <i>croissants</i>
para vocês na carpete da sala. Sintam-se à vontade para acabar com as amêndoas
caramelizadas. As bolachas de alfarroba estão uma categoria. Desculpem, mas só
temos açúcar mascavado <span style="font-family: Wingdings;">L</span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; color: #20124d;">PS: Se precisarem de utilizar a <i>internet</i>, a password é “raid
rastejantes”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; color: #20124d;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjucSzEBoxcmUcWzX7nKPzl2ZOV7HPUl6fs0ZS8udOGFI1U4yXEHnZivjKzP75ROORXNXGfqYE0HC-T1WMauSKlIqiUOdXF1K0HjYBAjO43abTyHEQZjQKedYX5bcTddPku6nF8K0uZzw0/s1600/Fire_ants.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjucSzEBoxcmUcWzX7nKPzl2ZOV7HPUl6fs0ZS8udOGFI1U4yXEHnZivjKzP75ROORXNXGfqYE0HC-T1WMauSKlIqiUOdXF1K0HjYBAjO43abTyHEQZjQKedYX5bcTddPku6nF8K0uZzw0/s1600/Fire_ants.gif" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; color: #20124d;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; color: #20124d;"><br /></span></div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-6328563631142277092014-10-14T17:10:00.001+01:002014-10-14T17:46:37.547+01:00Síndrome da bata branca<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
O hospital é a casa mãe das emoções. É a casa da partida e,
na grande maioria das vezes, a última das moradas. A casa da partida e de
chegada são os dois pólos que demarcam a amplitude das emoções. O que acontece de
permeio, são apenas singelas aproximações às emoções sentidas quando perante
estes dois extremos: nasceu, morreu. Apesar de o regresso à casa mãe estar previsto
para que ocorra tarde no tempo, infelizes aqueles que, por infortuna e aleatória programação, têm de regressar precocemente ao hospital.
Os profissionais de saúde são os mensageiros dessa miríade de emoções que se
vive no hospital. Notícias tristes; alegres; esperançosas. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Grande parte da minha actividade profissional tem sido
vivida no hospital. O meu trabalho mostrou-me particularmente bem a realidade do
enfarte agudo de miocárdio e do acidente vascular cerebral (AVC). Estes dois graves
acontecimentos, são a máscara que cai de uma série de doenças quase que
invisíveis e indolores. São episódios súbitos carregados de dramatismo pela
urgência a que obrigam e pelo desfecho que podem ter. As emoções que acompanham
estes dois eventos médicos são por demais evidentes.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um profissional de saúde é muito mais para além daquilo que
efectivamente faz. A sua simples aparição traduz-se invariavelmente na acalmia do
doente. Uma médica confirmou-me um dia aquilo que eu próprio suspeitava que se
passaria em situações como o enfarte ou o AVC: “Os doentes quando vêem a minha bata branca
ficam imediatamente mais tranquilos”. Apesar de eu nunca ter passado por nenhuma
situação de saúde grave, os relatos que escutei de inúmeros profissionais de
saúde e tudo aquilo que observei nos corredores hospitalares, levam-me a crer
que as coisas se passarão mesmo assim. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A cor branca numa peça de vestuário com a identidade de uma
bata resulta assim numa automática reacção de relaxamento. Este “síndrome de bata branca” não é de todo
exclusivo dos médicos. Por alguma razão, os restantes profissionais de saúde
que vemos nos hospitais (salvo excepções locais), estão vestidos de branco:
enfermeiros; farmacêuticos; técnicos de análises clínicas. A bata branca está
igualmente presente noutras áreas ligadas à saúde como as clínicas dentárias,
ópticas ou centros de fisioterapia. O propósito é sempre o mesmo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os meus amigos referem muitas vezes a sorte que tenho pelo
facto de estar casado com um médica. Naturalmente que reconheço as inúmeras
vantagens que esta união oferece, mas esta também traz um grave problema: o
síndrome da bata branca no lar. Não são raras as vezes que a minha mulher veste
a bata branca em casa. Isto resulta tal e qual como num doente. Quando perante
a bata branca dela não consigo mais criticar o pouco picante da comida,
escolher o destino de férias que desejo ou ver jogo do Porto da liga dos
campeões. Estou por isso totalmente refém da estratégia da bata branca. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O mais
doloroso é que este síndrome da bata branca não funciona no sentido inverso. Um
deste dias apresentei-me na cozinha vestido com a bata branca dela e aquilo que
escutei foi o seguinte:</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
- Essa bata fica-te
mesmo bem. Pareces mesmo um talhante. Se não te importas, arranja então tu o frango.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A minha expectativa é que um destes dias ela me veja de bata branca e julgue que sou uma cabeleireira...</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilKGgYLQhZ1_SQayopTIr9BD5jpBQny9DT_LRsILG5V9Yb_UpwYCI5hbamDWiOCEl2KRGjv4ZCwfpzh5zAUHyAkJb2k45wfXP6WSheDjuyCqasIhVukPmlEFm0vkejp1qkd3fJ5pE47Xw/s1600/01.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilKGgYLQhZ1_SQayopTIr9BD5jpBQny9DT_LRsILG5V9Yb_UpwYCI5hbamDWiOCEl2KRGjv4ZCwfpzh5zAUHyAkJb2k45wfXP6WSheDjuyCqasIhVukPmlEFm0vkejp1qkd3fJ5pE47Xw/s1600/01.jpg" height="278" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-52283404764812944452014-10-13T18:10:00.001+01:002014-10-13T23:29:20.985+01:00O meu é maior do que o teu<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não creio ser necessário uma grande exposição a respeito da
expressão "o meu é maior do que o teu". Este blog tem certos limites
que não ultrapassa e, por isso, mais vale deixar certos assuntos dentro do
balneário. Por oposição, a comunicação social, põe a nu estes dias, dois
despudorados donativos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O primeiro por iniciativa do nosso governo (25.000 € para a
reconstrução da faixa de Gaza) e o segundo por decisão da Câmara de Lisboa
(40.000 € para a Fundação Mário Soares). Admito que o pouco que sei sobre estes
donativos, advém do conteúdo noticioso, mas isso não invalida que eu me sinta
respectivamente envergonhado e chocado.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os problemas económicos de Portugal são evidentes, mas a nossa ajuda
para a urgência humanitária que se vive em Gaza, é, como denominada pelo
governo, “simbólica”? Se aquilo que podemos oferecer é um gesto simbólico, porque
não optar pelo cacilheiro transformado pela Joana Vasconcelos? Sempre lá
estariam uns azulejos dignos de apreciação e poder-se-ía ao mesmo tempo
transportar algumas pessoas. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em momento algum irei colocar em causa a importância da cultura no
desenvolvimento de um povo, mas facto é, que li atentamente a apresentação e os
estatutos da Fundação Mário Soares, e fiquei subitamente com dores nos rins. 40.000
€? Então que é feito das célebres dívidas dos municípios?<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Como referi anteriormente, eu não consigo ter uma visão com
critério e devidamente documentada. A única coisa que posso concluir, é que se estivéssemos num balneário, certamente que ouviríamos o presidente da câmara a
dizer ao chefe do governo: - O meu é
maior do que o teu. (leia-se orçamento) </span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5IED-GgdTiBloBmmXhbyXcaJBDXhvg9Eqpj8rLuiK0FtgRr8UQs-q8RNQoP7lFQRDYZQiZ1vqHmYb5lHjvsgCqKd8f8l5GveEydBKgAgbFT-sTzlUP6EqeP-JoO_jlvRpBpKrv7LtGlo/s1600/fita+metrica+2+(1).jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5IED-GgdTiBloBmmXhbyXcaJBDXhvg9Eqpj8rLuiK0FtgRr8UQs-q8RNQoP7lFQRDYZQiZ1vqHmYb5lHjvsgCqKd8f8l5GveEydBKgAgbFT-sTzlUP6EqeP-JoO_jlvRpBpKrv7LtGlo/s1600/fita+metrica+2+(1).jpeg" /></a></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-32160092783808701052014-10-13T16:35:00.002+01:002014-10-14T00:10:45.113+01:00Que enchido você é? Faça já o teste.<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Há muito tempo atrás dediquei um longo Outono à construção de um <i>puzzle. </i>Apesar de nessa altura ainda não o conhecer ao vivo, o tecto da Capela da Sistina mereceu a minha quase obsessiva dedicação durante aqueles meses. Tal empreitada apenas conheceu paralelo quando, muitos anos volvidos, devorei as Crónicas de Gelo e Fogo (vulgo, Guerra de Tronos). Quem leu os dez livros entenderá como ninguém o significado da palavra sofreguidão, pois dificilmente haverá outra forma de classificar tão empolgante leitura.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Não sou muito de acreditar no espiritismo dos búzios ou das cartas. Para ser o mais franco possível, búzios para mim são feijoada, e cartas são biscas secas e renúncias. O meu cepticismo no mundo do oculto capotou violentamente quando noutro dia me deparei na <i>internet</i> com o seguinte teste: "Qual a personagem da Guerra de Tronos que você é? Faça já o teste". Por várias vezes o neguei, mas a curiosidade foi demasiado forte. Apesar de não ter termo de comparação, mergulhei neste teste como se estivesse perante um pai-de-santo. O resultado do teste apanhou-me de calças na mão: <i>Jaime Lannister.</i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<div>
Aquilo que efectivamente importa enaltecer, é esta possibilidade mágica de sabermos mais coisas sobre nós próprios: que animal,especiaria ou tempo somos; qual o nossa verdadeira profissão ou poder mágico; que música ou filme foi inspirada em nós. Naturalmente, que não poderia faltar, a informação clássica do espiritismo: qual o nosso destino. A resposta a um simples questionário na <i>internet</i> e uma nova vida que começa. No meu caso concreto, após saber que era o <i>Jaime Lannister</i>, reflecti sobre as maldades cometidas no passado. Acredito com todas as minhas forças que no futuro conseguirei redimir-me dos meus pecados.<br />
<br /></div>
<div>
</div>
<div>
Para grande pena minha, não existe porém o teste que em minha opinião mais poderia contribuir para o nosso autoconhecimento - Que enchido você é? - Alheira ou chouriça moira? Butelo ou morçela de arroz? Painho ou farinheira? Porque todos nós somos sal, fumo ou sangue. Há quem seja muito porco ou quem tenha tripa grossa. Uns carne gorda, outros praticamente só ossos. Cada qual com a sua cura específica, mas todos pendurados. </div>
<div>
<br />
Enquanto aguardo pelo teste, nada melhor do que um <i>puzzle </i>de um tecto repleto de enchidos...<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br /></div>
<div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-1PK2PTxjt3hs851nWPVBuNvCUtzjKfFxvKpJ6wYWFSXw6RhDrClBxL2ipbjyYAfcs4WZYP4LFMU7CWnoz6NOUt3gnTFMGxkPh2JImex0EPblu1ISAuANf28EFQlkFU6f4tJn8b7e-Eg/s1600/fumeiro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-1PK2PTxjt3hs851nWPVBuNvCUtzjKfFxvKpJ6wYWFSXw6RhDrClBxL2ipbjyYAfcs4WZYP4LFMU7CWnoz6NOUt3gnTFMGxkPh2JImex0EPblu1ISAuANf28EFQlkFU6f4tJn8b7e-Eg/s1600/fumeiro.jpg" /></a></div>
<br /></div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-49078490318891842782014-10-06T11:59:00.003+01:002014-10-06T12:05:34.368+01:00O papel higiénico solidário<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
A decisão sobre qual o papel higiénico a comprar obedece
normalmente ao balanço de dois critérios: marca portuguesa e número de rolos.
Na passada segunda-feira, um critério maior falou mais alto no momento da
selecção: a solidariedade. Descobri que
uma determinada Organização Não Governamental (ONG) da área da saúde,
comercializa uma vasta gama de produtos, um dos quais, o papel higiénico. Este
apresentava-se assim como um forma extremamente simples de contribuição social,
e por isso, não houve qualquer hesitação no momento da compra. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O papel higiénico foi adoptado no lar e nada de relevante
haveria a relatar até ao dia em que eu me constipei. Até esse o momento, o
papel higiénico tinha apenas sido utilizado para a sua função primária, e nesse
capítulo, não existiam queixas sobre a sua capacidade de absorção ou macieza. O
problema encontrado foi efectivamente outro: o cheiro. Comecei a utilizar o
papel higiénico para limpar o nariz e a princípio tudo também corria bem. Há
medida que fui melhorando, e que algum ar começou finalmente a circular dentro
das minhas narinas, apercebi-me então do indescritivel mau cheiro do papel. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Apesar de não ter conseguido comprovar na embalagem,
acredito que este papel higiénico tenha origem em papel reciclado. A grande
questão está em saber que tipo de papel reciclado foi efectivamente utilizado. Facturas
do gás e da electricidade? Multas de estacionamento? Recibos de ordenado? Certamente
que todos nós, em algum momento, escutamos ou proferimos o desejo de limpar o
dito cujo <u>a</u> um destes papeis (é importante deixar claro que é <u>a</u> e
não <u>com</u> uma vez que o sentido da intenção é distinto). </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Infelizmente, o cheiro do papel higiénico solidário, é por
de mais nauseabundo para que eu acredite, que este tenha como base as facturas,
multas e recibos. Não que estes não sejam uma verdadeira trampa, mas mesmo
assim, ainda estão muito longe da pestilência sentida no papel higiénico
solidário. Para grande pena minha, apenas posso concluir, que o papel higiénico
solidário advém, nada mais nada menos, de papel higiénico intensivamente
utilizado na sua função primária. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que realmente me intriga, é como raio terão conseguido
unir de novo todas as diferentes porções de papel higiénico utilizado. Este
processo não deverá ser nada fácil porque não existe um padrão de utilização de
papel higiénico. Por um lado, há quem se consiga governar com um ou dois quadradinhos
de papel higiénico, e por oposição, há quem coma muito feijoada. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uma vez que a ONG trabalha com fundos muito limitados,
certamente que o processo de produção da sua marca de papel higiénico, é conduzido
de forma manual. Este facto, só por si, dá imediatamente a este papel higiénico,
o rótulo de solidário. Tal como o papel, espero que todos vós se compadeçam da minha causa, pois ainda faltam 35 rolos...</div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-20562053906391750082014-10-01T20:22:00.001+01:002014-10-01T20:22:04.109+01:00A Paciência<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Há quinze anos atrás troquei um punhado de cartas com um parente. Passado tanto tempo, acredito hoje, que o termo de tal correspondência, se deveu exclusivamente a mim. Os estímulos da juventude condicionavam a minha vida como se eu já estivesse atrasado no tempo. Não sei o que perdi na infância e na adolescência, para que na juventude sentisse tal urgência em correr. A perspectiva do tempo, que então ignorava, era no entanto para o meu parente, uma declarada preocupação: "O maior óbice está no tempo que, como deves imaginar, no meu caso apresenta um saldo muito baixo".<br />
<br />
Não há nada que eu admire mais do que um idoso. A sociedade, como em tantas coisas mais, adianta inúmeros critérios para a definição de idoso. A reforma ou o desconto nos bilhetes de comboio são dois bons exemplos. Estes indicadores poderão ser muito úteis para uma consciência colectiva, mas a definição de idoso, em minha opinião, apenas ao próprio diz respeito.<br />
Eu fui o último familiar a viver com a mãe do meu parente. Numa determinada noite, despertei com um inaudível gemido de dor. O cenário que encontrei na sua casa de banho perturbou-me imenso mas fiz aquilo que tinha de ser feito. Ela chorava baixinho enquanto eu a limpava e a carregava de novo para a cama. No jantar do dia seguinte ela agradeceu-me e pediu-me desculpa. Custou-me mais isso do que a cena do dia anterior. Na casa de banho encontrei uma mulher deitada no chão, mas naquela cozinha encontrei uma idosa a despedir-se de mim.<br />
<br />
Os mais velhos são os que mais sofreram. Viram partir grande parte dos seus afectos fossem estes de sangue ou por eles escolhidos. Muitos despediram-se até daqueles de que não era suposto. Folhas verdes arrancadas à árvore da vida, apenas, e só, porque sim. Os mais velhos são também os que mais perdem. Agora precisam de ajuda para carregar o saco das compras ou que alguém lhes recorde o nome dos filhos. Não conseguem mais controlar muitos dos seus gestos. O que é que move os idosos quando tudo lhes parece travar o caminho? A paciência poderá ser a resposta.<br />
<br />
Para ser sincero, acredito que a paciência é uma faculdade exclusiva dos idosos. Os comportamentos mais tolerantes que se observam em idades mais tenras são meros laivos de paciência. Apenas um idoso consegue aguardar uma semana inteira por uma visita ou um telefonema. Muitos poderão já não reconhecer a identidade dos afectos, mas continuarão sempre à espera. O pai do meu parente dedicava horas intermináveis aos seus dois baralhos de cartas. O jogo da paciência era a sua companhia. Não sei se o meu parente terá herdado o gosto pelo jogo de cartas. Talvez não tenha tempo e, ainda hoje, aguarde ansiosamente, a carta que nunca lhe escrevi...<br />
<br /></div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-90246159597395186372014-09-29T22:07:00.002+01:002014-09-29T22:26:55.593+01:00Prato do dia<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
Poucos minutos após a divulgação dos resultados das eleições
primárias de ontem, dei por mim a pensar nos placares das autoestradas que nos indicam
o preço dos combustíveis praticados nas diferentes estações de serviço. Em que
é que nós condutores beneficiamos das informações sobre os preço dos
combustíveis. Vamos por hipótese imaginar um condutor a caminho do Norte de Portugal
pela A1. Poucos quilometro antes da estação de serviço de Aveiras terá a
indicação sobre o preço dos combustíveis
aí praticado. O mesmo painel terá igualmente a informação relativa às duas
bombas de gasolina seguintes. Apesar da velocidade elevada a que se circula na
autoestrada, não passará a ninguém despercebido, que os preços dos combustíveis
são iguais independentemente da estação de serviço. O que se observa de Aveiras
a Antuã é por isso transversal a todas as outra autoestradas. A resposta à
questão que coloquei parece-me por isso bastante óbvia: os ditos painéis não
servem absolutamente para nada. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uma vez que o preço do combustível é o mesmo, a selecção da
estação de serviço como é que é feita? O cartão de desconto ou a higiene dos
espaços, poderão ser critérios relevantes. A distância para a gasolineira será
certamente muito importante, principalmente se o tanque de combustível se encontrar
na reserva. Eu esforço-me por acreditar que o critério principal, é, na verdade,
a comida. Deste modo poderemos finalmente dar uma real utilidade aos placares
informativos. Em vez do preço dos combustíveis os painéis apresentariam o prato
do dia de cada uma das estações. Se utilizarmos o mesmo condutor que referi
anteriormente, este ficará assim a saber que dali a dois quilómetro haverá "bochechas
estufadas", em Santarém "ervilhas com ovo escalfado" e que o prato do dia em Leiria será "filetes de pescada". Estas informações poderiam até funcionar como um tónico motivacional para
os condutores mais sonolentos: abre-se o apetite, abre-se a pestana.</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os candidatos a primeiro ministro, à imagem do que as gasolineiras
fazem com o preço dos combustíveis, não se distinguiram em termos das suas
políticas. Se a minha proposta para os placares informativos tivesse sido aplicada
às eleições primárias, talvez, pelo menos, tivéssemos ficado a saber como cada um
gosta do bacalhau. A única coisa que realmente sabemos, e pegando novamente no
peixe preferido dos portugueses, é que um deles é
hoje um “bacalhau com todos” enquanto que o outro, é uma “roupa velha”. Vamos lá ver se não acabam em “bolinhos”...</div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-45186430886621372892014-09-26T16:56:00.002+01:002014-09-26T17:02:33.076+01:00O Lado Negro<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Ela está sentada à minha frente mas de costas voltadas para mim. Não imagino o que ela estará a estudar, mas consigo perceber inúmeros gráficos num livro aberto. Um marcador fluorescente amarelo sublinha as frases mais relevantes de uma sebenta que parece estar já bastante usada. Ela está demasiado debruçada sobre a mesa. Será por uma questão de postura ou um problema de visão? Impossível saber. Apesar de não lhe ver face, os seus gestos parecem traduzir uma certa ansiedade. Sim, ela está nervosa. Aposto que se tratará da repetição de um exame. Certamente não será a primeira vez que o fará.<br />
<br />
Hoje a biblioteca está mais agitada que o habitual. As mesas estão praticamente todas preenchidas. É um claro sinal que o Verão terminou. Setembro é a época de recurso, os primeiros trabalhos de grupo, o retomar daquilo que se interrompeu nas férias. Há um ruído que preenche toda a sala de estudo. Cada mesa contribui com a sua parte. Eu próprio colaboro nesta peculiar canção urbana através do teclar descompassado deste texto. A música que se liberta dos meus auscultadores barra a entrada a todo este ruído. Basta olhar os gestos dos que me rodeiam para compreender o nível de agitação que se faz sentir.<br />
<br />
Apesar de se encontrar numa das extremidades da sala de estudo, está claro que este barulho lhe é insuportável. A cada momento, volta-se para trás e prospecta toda a audiência em busca da origem do alvoroço. O seu olhar é o bramir do grito de fúria que tem de calar. Levanta-se e vai repreender um grupo de rapazes que partilha uma mesa. A batalha com o estudo parece dependente do sucesso da sua demanda pelo silêncio. Olha novamente para trás. Duas vezes, quatro vezes. O seu olhar é pólvora fulminante <br />
<br />
Começo a ficar tão exasperado quanto ela. Para mim pouco me importa que esteja muito ou pouco barulho. Não consigo é suportar os seus movimentos. Apesar de estar focado neste monitor é impossível abstrair-me do que se está a passar mesmo à minha frente. Cada vez que ela se volta para indagar a sala, os nossos olhares esbarram de forma instintiva. Sete vezes, dez vezes. Neste momento ela poderia até ser a mulher mais bonita do mundo. Só quero que ela se vá embora ou que pare quieta de uma vez. Onze vezes, vinte vezes. Espero mesmo que ela reprove na porcaria do exame. Não suporto mais esta constância de movimentos na minha direcção.<br />
<br />
Levanto-me com a intenção de educadamente a alertar para o quanto me está a incomodar. Não me apercebo que o meu espírito está já tomado pelo meu lado mais negro e não vou a tempo de evitar a tragédia.<br />
<br />
"- Pare de olhar para trás. Daqui não leva nada. Sou um homem casado".<br />
<br />
Não mais se mexeu.<br />
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-71706766784832737342014-09-25T16:15:00.000+01:002014-09-25T17:05:55.198+01:00Professor Balança<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
Os legumes e frutas mais frescos chegam sempre com a manhã.
Isto é tão verdade na cidade como no campo. Se numa encontramos prateleiras
refrigeradas e arcas frigoríficas, na outra temos as gotas do orvalho e a
colheita pela alvorada. Já aqui dei conta da minha preferência, mas infelizmente, o campo é demasiado longe da cidade. Nunca houve uma real aposta
em rodovias destinadas a tractores e carroças, apesar, por exemplo, dos muitos
burros que circulam nas estradas. A média de idades das pessoas que acorrem pela manhã ao
supermercado a que vou ultrapassa largamente os 70 anos. Na grande maioria das
vezes, o supermercado ainda nem abriu, e já por lá aguardam inúmeras rugas e
artroses. Estou em crer que a motivação
principal para tão cedo despertar, será comum entre todos: a frescura das
frutas e legumes. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Numa destas manhãs fomos todos surpreendidos pela ausência
do funcionário que se encarrega de pesar as frutas e legumes. Ao invés do dito funcionário, o
supermercado disponibilizou uma balança toda moderna em que são os próprios
clientes a tratar do assunto. Uma vez que os velhos apalpam as frutas e legumes muito mais do que eu, fui a primeira pessoa a chegar junto da balança. Não precisei de qualquer livro de instruções e de
imediato comecei a pesar as muitas frutas e legumes que compunham o meu cesto. Apesar
da minha agilidade de movimentos, num instante me vi rodeado por imensos
velhotes. Os seus olhos, enquanto tentavam acompanhar os meus movimentos, traduziam
o pânico da ignorância. Algumas vozes começaram a ouvir-se: “Ai que complicado!”;
“Este moço é tão rápido.”; “Onde estará o funcionário?”.</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sei se realmente precisaria de outras coisas, mas depois
de ter pesado tudo o que tinha, facto é, que permaneci na secção das frutas e
legumes. A confusão rapidamente estalou em torno da balança pois ninguém sabia
como proceder. Aproximei-me tranquilamente do já numeroso grupo e
disponibilizei-me a ajudar. Os sorridentes velhotes só desarmaram quando colei
a última etiqueta num alho-francês. Pelo meio, o pico máximo da boa
disposição quando lhes mostrei que o melão estava classificado como legume. Um
dos velhotes apelidou-me de “Professor Balança”, nome esse que teve a
concordância de todos. Amanhã preciso de ir novamente ao supermercado. Será que
terei novos alunos? </div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-57572889847473961232014-09-12T18:27:00.001+01:002014-09-12T23:03:00.049+01:00Mulheres fatais dispostas a tudo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
Chegaste à minha vida adornada em tons de antracite. Desses
três dias em que estivemos juntos, recordo ainda o teu vestido preto. Apesar da
invulgar beleza dos teus traços, odiei-te desde a primeira hora. Não te sei
dizer o que mais me repugnou, se o teu amargo interior ou se o fascínio que parecias
suscitar, em todos os demais. Acreditei que o facto de coincidirmos aqueles
dias em casa do meu irmão, se teria tratado apenas de um infeliz acaso. Nunca
pensei que a tão breve prazo te encontraria novamente. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Comecei a esbarrar contigo em todos os locais que frequento,
como se de repente tivesses decidido tomar a minha vida como tua. Não sei porque o
fizeste, mas aposto que nunca terias imaginado, que alguém um dia, te poderia
negar. Foram inúmeras as vozes que clamaram junto de mim em teu favor. Gabaram
a elegância dos teus movimentos, a subtileza dos teus perfumes. Como se fosses a
incarnação perfeita da espuma que baila no colo das ondas do mar. Particularmente enalteceram a riqueza das tuas múltiplas personalidades. A cor do teu vestido como o
reflexo do que és em cada momento. Toda uma explosão quando de azul-escuro, mais
delicada quando de vermelho. És a actriz que em palco representa aquilo que
cada um dos espectadores intimamente quer ver. És a mulher que passeia junto do actor de cinema mas que todos os dias aconchega um qualquer plebeu. A
plateia adora-te por isso. Por essa porção de <i>glamour</i> que trazes às suas vidas simples. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Hoje pergunto-me se algum de nós estaria preparado para a
tua chegada. Eu claramente que fui apanhado desprevenido. Ingenuamente
acreditei que serias apenas uma moda passageira e que um dia a vida voltaria ao
de antigamente. O quanto estava enganado. Para além de não desapareceres,
começaste a ser objecto de reproduções. O mundo tomou-te como referência e
foram muitas as que quiseram assemelhar-se contigo. Com os mesmos jeitos, os
mesmos equívocos. Mulheres fatais dispostas a tudo. Tenho dificuldades em
recordar bofetada semelhante, aquela que senti, quando conheci uma das
tuas pseudo-imitações. Não me atrevi sequer a censurá-la, pois ambos sabemos
que a culpada és tu e eu nunca te irei perdoar por isso. O mundo toma-te por uma coisa
que não és. Não me cansarei de gritar ao mundo que és um produto corrosivo...nunca
serás um café... odeio-te Nexpresso...</div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-20718605470603057692014-08-28T14:54:00.001+01:002014-08-28T14:54:04.751+01:00Cavalheiros em cuecas<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Hoje despertei com um certo
incómodo a nível da ventre. Não creio que exista razão para alarme porque este
mal estar parece ser da parede abdominal. Ainda bem que assim o é, pois quanto maior a dor muscular, mais perto estarei do meu objectivo: “obterá olhares
gulosos femininos.” Cruzei-me com esta excitante premonição numa daquelas
revistas para homens. Acompanhei as três últimas edições da mesma revista e estou
ansioso que saia o próximo número. Compreendi o quanto nós homens somos
obcecados pelos nossos abdominais. As capas das últimas três edições da revista
deixam isso muito claro: “consiga o six pack que sempre sonhou”, “abdominais
definidos em 28 dias”, “diga adeus à barriga com este novo super plano”. Apesar
de um cavalheiro em cuecas invariavelmente ocupar grande parte da capa da
revista, estes arrebatadores títulos fazem muito mais por um café do que um <i>cheirinho</i> ou um pau de canela. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A revista sugere inúmeras dicas
para um abdominal perfeito. E para quem tem dúvidas sobre o aspecto do mesmo,
não é apenas na capa da revista que se encontra um bom exemplar. Na verdade, se
apenas tivéssemos em conta o aspecto visual da revista (vulgo, número de homens
em cuecas), eu atrever-me-ia a dizer que a revista talvez fosse mais indicada
para mulheres. Embora eu apenas tome um café por dia, pelo pouco que li do
conteúdo da revista, não tenho qualquer dúvida sobre qual o público alvo: machos. A
testosterona é a matriz comum a todos os artigos. Não é exagero nenhum aquilo
que estou a dizer. Pode é não ser imediato, mas a testosterona está lá sempre.
A última edição da revista sugere por exemplo uma inocente receita de “camarão
com papaia e iogurte”. <i>Coza o camarão,
corte cubinhos de papaia, misture a rúcula</i>...Não encontrei um pingo de
testosterona na ficha técnica da receita mas depois olhei com atenção para a
fotografia: o preparado era servido dentro de um abacate e não de uma papaia, e para além
disso, era ainda perceptível a presença de cubinhos verdes de abacate no próprio preparado. Reli
atentamente a receita e percebi que teria havido um erro na transcrição da
mesma. Acredito piamente que a substituição do abacate pela papaia terá sido feita
de forma intencional. A papaia é a necessária intromissão da testosterona na
história pois não há fruta a que os machos reajam mais. Pelo modo como esta se lê. É como se tivesse um hífen: “papai-<u>a</u>”. </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Apesar do claro engano na receita,
parece-me que a substituição do abacate pela papaia poderá efectivamente
resultar melhor. É uma receita muito pouco calórica e que em muito poderia contribuir
para a definição dos meus abdominais. Conseguiria assim antecipar um <i>olhar guloso feminino</i> por parte da minha
mulher mas ao mesmo tempo, parece-me demasiado arriscado cozinhar este prato. Mesmo que
apresentasse o prato como “camarão com <u>mamão</u>
e iogurte”, ela poderia sempre desconfiar sobre as minhas leituras na
biblioteca. Poderá demorar um pouco mais, mas fico-me pelas dores do exercício físico...tudo menos ter de lhe falar dos
cavalheiros em cuecas... </div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-66094568847650498852014-08-26T21:17:00.001+01:002014-08-26T21:17:21.060+01:00As dores do crescimento<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
Eu estava a tentar perceber se existiriam alforrecas na água
quando avistei o Pedro a descer as escadas que davam acesso à piscina natural. Embora
acompanhado pela sua família, num instante se libertou para junto do Gordo e
dos outros rapazes. Claramente todos se conheciam muito bem, mas era óbvio que
o Pedro gostava muito do Gordo. Poucos minutos após terem desaparecido, os
rapazes regressaram em grande algazarra para o local em que eu me encontrava.
Estavam a jogar "à apanhada" e cabia ao Pedro a difícil tarefa de apanhar quem
quer que fosse. Os rapazes quando em terra firme se viam apertados pelo Pedro
lançavam-se à água. A habilidade dentro de água era a garantia de não serem
apanhados. É que o Pedro corria bem mas nadava mal. Os rapazes provocavam o
Pedro com mergulhos cada vez mais tardios e próximos dele. Após inúmeras
perseguições aquáticas o cansaço e desânimo tomaram conta do Pedro.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Era uma cena difícil de ver e da qual eu parecia ser o único
espectador. Pensei alterar o rumo dos acontecimentos a favor do Pedro. Um mergulho
inocente a cortar a trajectória de fuga de um dos provocadores teria sido o
suficiente. Não sei bem o que terá pesado mais na minha decisão de não
intervir. Se a súbita presença de várias alforrecas à tona de água ou se o
reconhecimento do quão importante são as dores do crescimento. A minha mãe
conta que na noite do meu primeiro acampamento eu estava aterrorizado. Implorei-lhe
em lágrimas que me levasse com ela para casa. Partiu-lhe o coração deixar-me
ficar no acampamento, mas eu teria de passar por aquilo. Não sei como teria
sido a minha vida sem aquela noite naquela tenda. O que apenas sei, é que naquela
tenda, fiz amigos para toda a vida. </div>
<div class="MsoNormal">
A minha resistência em não intervir foi
novamente testada poucos minutos depois. O Rodrigo calculou mal o tempo de salto e foi apanhado pelo Pedro. Qualquer pessoa que já jogou à
apanhada perceberá o que aconteceu em seguida. O Rodrigo e o Pedro debateram-se
no meio da água num "toque e foge" a dois. O Pedro foi o último a tocar e pôs-se
de imediato em fuga. O Rodrigo, ao invés de perseguir o Pedro, apenas gritou, “É
o Pedro”. O Pedro em fuga respondeu, “É o Rodrigo”. </div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“É o Pedro.” “É o Rodrigo.” “É o Pedro.” É o Rodrigo”. De
ambas as margens se clamava e o jogo permanecia interrompido para grande
desespero do Gordo. A tristeza estava estampada na cara do Pedro. Por momentos temi
que chorasse. Apesar de as idades serem semelhantes, o Pedro era claramente o
mais infantil do grupo. Depois de largos minutos neste impasse, o Pedro
assentiu em ser ele novamente a apanhar. Não sei o que o terá motivado a tomar
aquela atitude. Nesse momento pareceu-me ligeiramente mais crescido. Assim que
o jogo recomeçou, o Gordo deixou-se teatralmente apanhar pelo Pedro. Não se
seguiu o tradicional "toque e foge" entre os dois porque o Gordo decidiu dar caça
ao Rodrigo. O Pedro sorria penhasco acima. Eu dei o meu mergulho...as
alforrecas tinham desaparecido...</div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-51792644275276795362014-07-20T18:32:00.000+01:002014-07-20T18:34:51.430+01:00Ópera cómica em 3 actos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
A maior vantagem de uma cidade pequena é sem dúvida alguma a
sua própria dimensão.Tudo está próximo independentemente de quão na periferia
da cidade possamos estar. O hospital, o mercado, o banco, a antiga professora
de química, aquela jeitosa por quem suspirávamos na catequese... ! Após o jantar de ontem decidi fazer uma
caminhada pela cidade. Verão e Passeio, mesmo numa cidade onde a fria nortada é
a autoridade em funções, pedem calções e sapatilhas. Optei por fazer um pequeno
desvio na rota habitual para ver a remodelação do Cine-Teatro Garrett, que após
inúmeros anos encerrado, abriu novamente as portas aos aplausos do público.
Assim que me encontrei diante do edifício uma cara amiga deu-me conta, que dali a
uma hora, se realizaria mais um concerto do Festival de Música. Comprei o
bilhete de imediato e nem me dei ao trabalho de ver o programa para aquela noite. Vários anos a assistir
a tal ciclo de concertos eram a garantia suficiente que teria uma bela noite de
música clássica.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ainda tinha imenso tempo até ao concerto e continuei por isso o meu passeio.
Chegado a uma grande praça junto à praia encontrei uma multidão de gente. Centenas
de pessoas com trajes de ginásio seguiam os ágeis movimentos de um rapaz que se
encontrava em cima de um palco. A coreografia e a música não deixavam margem
para dúvidas: zumba. Assisti divertido ao
empenho e alegria de toda aquela gente, mas a minha opinião sobre a zumba
permaneceu igual: sem caneca não é zumba. Após uma breve pausa no Café de
sempre, regressei ao Cine-Teatro. Na subida vertiginosa para tentar assegurar
um lugar na primeira fila do primeiro balcão, apercebi-me de 3 coisas: muitas
gravatas, ex-ministros, demasiados degraus. Estes últimos explicam-se pelo
facto de já não existir o antigo primeiro balcão. As gravatas e o ex-ministros
talvez se expliquem com o que passado alguns minutos se anunciou: “<i>La Spinalba ovvero Il vecchio matto – Ópera cómica
em 3 actos</i>”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O público estava todo devidamente aperaltado para a ópera
que iria principiar no Garrett. Calções e sapatilhas eram mais apropriados para a zumba que se exercitava na praça. Imagino que a professora de
química e a jeitosa da catequese, sentadas duas filas à minha frente, pensariam
o mesmo. O sentimento de vergonha desapareceu assim que o cravo e o violoncelo
começaram a afinar os restantes instrumentos. Não sei se terão sido as minhas
pernas nuas ou as sapatilhas, mas facto é, que apesar de existirem inúmeras
pessoas conhecidas, durante o intervalo, não tive qualquer encontro imediato. A ópera terminou sob uma chuva de aplausos. Inesperadamente, na rua também chovia...não esperei para ver como fariam com as saias travadas...</div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-89051056180060996442014-07-16T22:36:00.000+01:002014-07-16T22:36:53.117+01:00Trovoada<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
As torradas da Biblioteca da Póvoa de Varzim em bom rigor
não poderão ser consideradas como
verdadeiras torradas. Sim senhor são compostas exclusivamente por pão, confirmo
a utilização da torradeira e garanto o clássico sabor a manteiga. O problema é
temporal: o pão utilizado nessas torradas, é o do próprio dia. E este facto tem
obviamente um impacto determinante no resultado final. Conhaque é conhaque,
champanhe é champanhe. As melhores rabanadas são as do dia seguinte à fritura e
o peixe para a grelha só mesmo o apanhado naquele dia. Muitos mais exemplos
poderia apresentar que validam a importância da questão temporal. Fica por isso
claro que não se trata de uma embirração da minha parte para com as supostas
torradas da Biblioteca da Póvoa de Varzim. Os idos tempos de estudante há muito
já lá vão. E boa verdade não me recordo da
última vez que terei entrado em tal espaço municipal. Apesar de lembrar as torradas
do modo que descrevi, admito que entretanto possam ter havido melhorias a nível
da cafetaria. Nem que mais não seja, para podermos chamar as coisas pelos nomes
correctos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A minha semana laboral tem lugar na Biblioteca de Oeiras
onde não existe qualquer cafetaria. Duas máquinas de snacks e uma máquina de
café, asseguram as necessidades humanas fundamentais a quem lá anda. Estão
igualmente disponíveis duas casas de banho para a concretização de outras
necessidades básicas. Curiosamente, e abro aqui um parênteses, as máquinas de alimentação, encontram-se localizadas
a menos de quatro metros das portas dos WC. A justificação para tal proximidade
parece-me óbvia: uma coisa pode levar à outra ( independentemente de qual a
primeira). O que aqui efectivamente me
interessa relatar diz respeito a outra necessidade fundamental: o sono. A
satisfação desta necessidade básica é a verdadeira missão de qualquer biblioteca.
A Biblioteca de Oeiras, neste capítulo, é um modelo de excelência a copiar.
Como se já não bastasse o silêncio aterrador da pesada literatura e os gélidos olhares das
bibliotecárias perante o mínimo espirro, a Biblioteca de Oeiras, para além de
mesas e cadeiras, disponibiliza pufes para as pessoas estirarem. Mais uma vez,
também a localização dos pufes, foi estrategicamente pensada: nos tranquilos corredores
que existem entre as diversas estantes de livros. Os pufes são por isso
altam<span style="font-family: inherit;">ente proc</span>urados por quem necessita de satisfazer uma das suas necessidades
básicas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Como não tenho muitas ideias quando estou a dormir não
vejo qualquer beneífio na utilização dos pufes. Não só não utilizo os pufes,
como também levo as minhas refeições para a biblioteca. As ideias que tenho, umas
mais parvas que outras, apesar de serem imensas, não preenchem naturalmente, a
totalidade da minha atenção. Já vou reconhecendo por isso algumas das caras que
frequentam a Biblioteca. Há um rapaz que todos os dias se estende no mesmo
pufe. A mesa em que me costumo sentar, é próxima o suficiente do pufe no qual o
rapaz invariavelmente se encontra, de modo que já conheço alguns dos seus movimentos.
Para além de um computador portátil no colo e de meia dúzia de cardernos pelo
chão, pouco mais há a apontar. Não pude foi igualmente deixar de reparar, que o
rapaz do pufe, é um adepto confesso das máquinas de snacks e café. </span></span><br />
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span>
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Uma desgraça poderá estar por isso prestes a
acontecer. Na verdade, prestes a fazer-se ouvir. A associação, da malemolência
própria do pufe, com a qualidade dos géneros alimentares daquelas máquinas,
certamente resultará, num muito pouco mudo, processo digestivo. A vergonha
desta sonoridade poderá justificar uma descarada mentira. Afinal de contas,
qualquer pessoa que já tenha experimentado um pufe, tem noção da música que
este sugere a cada movimento nosso. Seria por isso muito fácil, sugerir que a
trovoada intestinal, não fosse mais do que um acorde musical do pufe. O
problema é que eu estarei por perto... e se não deixo passar as supostas torradas,
certamente que não será necessário um relâmpago para comprovar o fenómeno da
trovoada...</span></span></div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-77375246125942855242014-07-10T19:32:00.000+01:002014-07-10T19:32:47.912+01:00Alma de esquerda a circular pela direita <div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
Um dia, algures no Sul do Laos, aluguei uma mota. Percebi
que andava muito bem para a frente e para trás, mas que me era impossível andar
de um lado para o outro. Na verdade até era possível, pois bastava-me empregar
a técnica que utilizava quando desejava
andar para trás: parar a mota, sair da mota, virar a mota para trás, entrar na
mota, conduzir para a frente. Motorizadamente falando, não me consigo inclinar
nem para a direita nem para a esquerda, o que na prática significa, que não sei
curvar. Rapidamente compreendi que a minha técnica de fazer as curvas dificilmente
me faria chegar longe. A resolução para esta situação surgiu rapidamente: oito
minutos após o aluguer da mota, aluguei um condutor para a mota. Os automovéis,
ao contrário das motas, não obrigam a qualquer inclinação por parte do
condutor. Uma vez que este facto não é do conhecimento geral e que este blog tem poucos seguidores, poderemos
continuar alegremente a visualizar, não raras as vezes, aquando de uma subida de um automóvel, o
respectivo condutor inclinado para a frente. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Apesar das enormes tolices que reconheço que fiz enquanto recém
encartado, creio que nunca me terei inclinado para a frente. Os tempos de
grumete ao volante já lá vão, e apesar
de poder estar errado, creio que hoje em dia, sou um condutor bastante
fiável. Esta era a minha convicção até há semana passada. Apesar de não ter acidentes de viação a
registar, sinto-me desde então, um pior condutor. Admito que algo de
inexplicável possa ter ocorrido dentro de mim, mas no imediato, tenho de
atribuir as culpas ao Renault Twingo. Eu e este carro somos amantes ocasionais
há muito tempo, mas agora que aumentamos a frequência dos encontros, as coisas
parecem começar a azedar. Até há semana passada, os nossos encontros foram
sempre marcados pela presença da proprietária do carro. Tal como dois namorados na presença
da mãe, os encontros até então, foram bastante moderados em termos de manobras. O problema é que agora o Renault Twingo exige demasiado de mim. O tipo de carro a que estava habituado fazia tudo por mim: regulava o ar condicionado, accionava o
limpa pára-brisas, acendias os faróis... . Eu apenas tinha que desfrutar da
companhia do automóvel. Se de uma amante se tratasse, era a mulher-a-dias
perfeita. O Renault Twingo é uma verdadeira dondoca.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
O que mais me fere é estar agora limitado a circular pelo
lado direito da faixa de rodagem. Alma de esquerda a circular pela direita. Não existe
castigo maior para um condutor. Creio que não conseguirei suportar esta
situação por muito mais tempo. Em algum momento terei de terminar esta relação.
Era suposto uma amante fazer-me sentir bem, mas sinto-me cada vez pior. Mas
talvez seja melhor aguentar, pois o autocarro da rua é a serventia da casa... .
Regulo o ar condicionado, acciono o limpa pára-brisas, acendo os faróis...
qualquer dia estou a inclinar-me para a frente...</div>
</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-54368600796600270882014-07-05T01:36:00.000+01:002014-07-05T01:45:22.400+01:00Ainda que o carvão acabe<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<div class="MsoNormal">
A minha empresa está prestes a entrar no seu quinto dia de
existência. Estes quatro primeiros dias foram muito intensos, e por isso, nada
melhor que o fim-de-semana para recuperar as energias. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na verdade, apesar da sua precocidade, a
empresa já começa a mostrar alguns sinais de desgaste. É que não é muito fácil
ser uma empresa. Felizmente que o dicionário nos oferece alternativas
linguísticas à palavra empresa. O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cometimento
ousado</i> Sou EU. Acumulo por isso os cargos de Presidente, Director
Financeiro, Director de Marketing, Director de Vendas e ainda, de Trabalhador.
Numa lógica Lusa, parece-me que a empresa está bastante equilibrada no que diz
respeito à proporção de cargos directivos. Até ao momento estou bastante satisfeito
com a performance de todos os departamentos, mas começo a sentir, que mais dia
menos dia, precisarei de um Director de Recursos Humanos. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Director,</i> pelo que está descrito em cima é algo que naturalmente
aprecio. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Humanos, </i>pela falta
comprovada de Marcianos, continuam a ser os meus seres vivos favoritos. Agora, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Recursos</i>, detesto.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em termos da sua origem, não há dúvida que somos um recurso
da biosfera. Ainda que o carvão acabe, poderemos assim, quem sabe um dia, continuar
a nossa existência, a olhar para uma grelha de sardinhas. Mas numa perspectiva
obviamente diferente: de baixo para cima. Será isto aquilo de apelidam de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">vida eterna? </i>Humm, talvez seja melhor
não ir por aí… . A taxa de natalidade actual coloca também algumas
interrogações sobre se nos poderemos efectivamente considerar como recursos
renováveis. Pelo caminho há sempre algumas recauchutagens que podem ser feitas
(zumba, <u>silicone</u>, Professor Karamba...). Umas são mais <u>impactantes</u>
que outras, mas em termos de renovação propriamente dita, acho difícil. E
depois há a própria questão de gestão inerente ao recurso. Como é que funciona?
Da mesma forma como o chefe do meu cunhado que lhe dá instruções para ir ver o
que se passa com a torre 12 do parque eólico X, o mesmo se passaria se fosse um
Recurso Humano avariado? Na verdade até pode ser que as coisas se passem mesmo
assim, e eu terei por isso demorado 34 anos a perceber o significado da expressão,
“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">tens um parafuso a menos</i>”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não é de estranhar que o meu cometimento ousado esteja um
pouco relutante na contratação de um Director de Recursos Humanos. A empresa é
demasiado humanista para permitir que os seus colaboradores sejam geridos como
um outro qualquer recurso. Se não houver pinhas ou cavacos disponíveis, toca a
meter acendalhas e carvão? As coisas não podem ser feitas assim porque as
sardinhas ficam com o cheiro da combustão. A electricidade foi-se abaixo, o cilindro
só aguentará um duche, e por isso só um é que se lava? A minha mãe em pequenos
dava-nos banho aos três e ainda hoje em dia, tomo muitos duches a dois (mas não
com os mesmos). O ouro está pelos olhos da cara e por isso esquece lá as
alianças? Aonde é que já se viu, andar depois de casados com os dedos a nu?!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os Humanos são de tal forma únicos que dificilmente algum
dia se conseguirão fazer versões melhoradas com qualidade suficientemente decente, que
valha a pena abrir os cordões à bolsa e trazer um para casa. O problema está é na forma de os gerir. Eu
na verdade, a iniciar o quinto dia da empresa Sou Eu, já estou efectivamente
por tudo e preciso mesmo de ter alguém para administrar os Humanos. Mas quem é
que poderá ser? Olha que se lixe, afinal de contas são só Humanos: </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Comunicado: Orgãos Sociais para o próximo milénio do
cometimento ousado Sou Eu </div>
<div class="MsoNormal">
João Ferreira – Presidente, Director Financeiro, Director de
Marketing, Director de Vendas, Trabalhador e Director de <s>Recursos</s>
Humanos. </div>
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Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-35048636847245385762014-07-04T00:38:00.001+01:002014-07-04T11:17:07.776+01:00Santa Luzia<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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A despedida de solteiro de um dos meus grandes amigos incluiu uma
peregrinação ao Santuário de Santa Luzia em Viana do Castelo. O objectivo não
foi uma tentativa de expiação de eventuais pecados cometidos, mas apenas e só,
uma pausa no programa habitual das nossas despedidas de solteiro: um grelhador,
peças de carne de porco, bebidas várias. A caminhada não foi muito longa uma
vez que a casa alugada para o efeito, se situava numa freguesia nas
proximidades da cidade. Para ser mais exacto, a peregrinação constituiu-se pelos
poucos metros que distava o grelhador do carro que nos conduziu monte acima e
pelos degraus que davam acesso ao Santuário, junto do quais, o carro ficou
aparcado. Admito que não seja uma peregrinação da qual me possa orgulhar muito,
mas ao menos, ainda cá estou para escrever esta introdução. Não sei o que se
poderia ter passado no meu fígado se naquela tarde de sábado, ao invés de irmos
ao santuário, tivéssemos continuado a comer carne de porco. Se fosse frango
ainda vá que não vá, mas porco grelhado, é cirrose certa.<br />
<br />
Santa Luzia encontrou-me em ébria convalescença, e talvez por isso, aquilo
que mais me impressionou, não foi a solenidade inerente ao culto e à fé, mas
sim, a vista que se consegue do zimbório da basílica. Olhei principalmente para
Sul e tenho a certeza que consegui identificar outro Santo: Bartolomeu do Mar.
Aquele que me ensinou a nadar na sua praia. Os mais crentes afirmam até, que
foi ele que me salvou. No mínimo, não posso ignorar, que as graves alergias que
sofria na meninice desapareçam poucos dias após o banho santo, o galo preto e
as três passagens por debaixo do andor de São Bartolomeu do Mar. Mas de uma
coisa tenho a certeza absoluta: se não fossem os Verões intermináveis a praticar nas
águas daquela praia, nunca me teria safado, quando um dia, uma sorrateira corrente,
me tentou levar com ela, por entre um solitário litoral dos arredores de Nha
Trang no Vietname. No topo da basílica de Santa Luzia recordei ambos os areais.
O areal da confiança que preenchia o menino ao engolir as primeiras águas
salgadas sob o olhar atento da família e o areal do medo, que inundava o homem
ao debater-se contra a forte correnteza sob um silêncio
profundo de solitude.<br />
<br />
Ontem subi a um sétimo andar. Depois de um terno abraço, conheci um pequeno
templo que até então ignorava. Depois de inúmeros dias passados naquele sétimo
andar, finalmente me apercebo da existência daquele acolhedor espaço. Não é no
entanto de estranhar, pois o que lá tinha ido fazer nas vezes anteriores, foi
tudo menos andar a conhecer a casa. Muito poderia dizer sobre isso, mas fico-me
pelo malabarismo, pois afinal de contas, foi lá que percebi que poderia ter
feito carreira como malabarista. Eu e todos os habitantes que comigo partilharam
aquele sétimo andar. E só quem tentou um dia fazer malabarismo percebe que o
segredo é tratar todas as bolas de igual forma. Mesmo que uma pareça presa à
mão e a outra vagabunde pelo ar.<br />
<br />
Ambos os areais são essências à nossa existência. Podemos gostar de olhar
mais para um, tal como eu o fiz no topo da basílica. Não podemos é ignorar o
outro areal, porque na vida, tal como no malabarismo, o segredo está no
movimento continuo. Em algum momento iremos necessariamente tocar
todos os diferentes areais. E no curto espaço de tempo que um destes areais se encontre na nossa
mão, teremos de tirar o máximo partido desse momento, antes de o ver elevar-se novamente
no ar.<br />
<br />
Aquele sétimo andar é torneado a enormes janelas. A vista é quase tão bonita
como a do zimbório do santuário em Viana do Castelo. E também lá vive uma
Luzia. Santa não sei, Wittmann, de certeza. Não existe peregrinação melhor do
que a ida àquele sétimo andar. A seguir a esta só mesmo todas as outras romarias tradicionais...desde que antecedidas de peças de carne de porco...para lamento do meu fígado..</div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-3516833217682652222012-12-19T18:33:00.002+00:002012-12-19T18:36:53.063+00:00O fim do mundo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A contagem decrescente para o fim do mundo está em
marcha. Isto de se esperar uma eternidade pela concretização da profecia Maia
dá cabo dos nervos a qualquer um. Felizmente, o mundo está repleto de
impacientes, que em inúmeras ocasiões ao longo da história, tentaram fazer
pelas próprias mãos, aquilo que estava traçado pela antiga civilização do
continente americano. De tudo se tentou um pouco, desde o </span><i style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">homem gordo</i><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> que
vindo do céu pousou em terras de samurais até ao homem magro de tez de caril que
perdeu premeditadamente a voz. Facto é que nada resultou, e por isso, as
atenções voltam-se agora para sexta-feira.</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não sei de que forma o fim do mundo se apresentará.
Sei no entanto a forma como eu me apresentarei ao fim do mundo. Não tive que
pensar muito no assunto, pois na verdade, tudo se resume ao advérbio “já”. Já
saltei de pára-quedas, já copiei num exame, já comi esquilo. Já brilhei num
karaoke, já chorei num comboio, já rapei o cabelo. Já matei um rato, já mudei
uma fralda, já fiz surf. Já li uma carta de amor, já vi o peixe-palhaço, já
apanhei um soco. Já me mascarei de pirata, já discuti com um padre, já bebi
absinto. Já escrevi uma música, já vendi calendários, já enterrei um golfinho.
Já arranjei grelos, já dormi na floresta, já insultei um árbitro. Já andei de
bicicleta, já dancei em cima da coluna, já apanhei amoras. Já fiz batota, já vi
o sol nascer no mar, já dei os pêsames a alguém. Já engarrafei vinho, já corri
de madrugada, já li em casamentos. Já dei aulas a crianças, já lambi selos, já
furei um dente. Já bati com o carro, já dei uma esmola, já lavei o chão. Já fiz
sauna, já pedi um autógrafo, já estive em antigos campos de concentração. Já
celebrei a liga dos campeões, já cantei janeiras, já fiz uma radiografia. Já
tomei banho com a água da chuva, já saltei fogueiras, já tive piolhos. Já
arranquei uma unha, já dancei kizomba, já construi uma jangada. Já… . <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ao contrário de muitos homens, acredito num fim do
mundo suficientemente paciente para escutar-me até ao meu último e derradeiro
“já”. A lista dos “já” é dramaticamente finita pois está limitada a
praticamente 33 anos de existência. Espero no entanto, que após o meu último “já”,
o fim do mundo me questione se tenho algo mais a acrescentar. É que a minha
lista dos “ainda” poderá adiar a profecia por uns tempos...</span></span></div>
<br />
<br /></div>
Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-21648447380719582082012-07-26T15:39:00.002+01:002012-07-26T15:39:51.763+01:00A velha gelataria<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Abraçado a Ela,
entrei. Um longo dia no areal brilhava na nossa tez morena. Tudo naquela
pequena vila sinalizava a estação do calor. As esplanadas repletas de
conversas, as toalhas garridas nas varandas, os sacos de carvão à venda. Deparei
com a velha gelataria encerrada. A bolacha caseira e as bolas de amora assim
perdidas. Uma morte anunciada a cada Verão pelo já descolorado “<i>Passa-se</i>” que pendia na janela. Portas
trancadas e ausência de sinais vitais. Disse a mim próprio que talvez me
tivesse enganado na rua numa tentativa de suavizar a minha desilusão. Mas não
havia dúvidas que era aquela a esquina dos meus gelados preferidos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">A vila estava agora
diferente da que recordava. Claramente mais pobre. A gelataria era a alma
daquela terra. Como o coliseu em Roma, os leões no Serengeti, o caril na Índia.
Ela que me abraçava, ficou também mais pobre, privada dos sabores que eu tanto lhe
tinha prometido. A pequena vila pulsava agora das novidades que aí se tinham estabelecido:
o padeiro alemão, a nova pensão, a loja em que entrei abraçado a
Ela. Na montra plantada em frente à antiga gelataria cintilavam diferentes
artigos de Verão: os colares e as pulseiras, os óculos de sol e os chapéus, as
túnicas e os chinelos. Talvez a localização da loja tivesse sido decidida a
pensar em mim. Como que um abraço à melancolia de todos aqueles que encontravam
a velha gelataria encerrada. A loja convidava a entrar, não tanto pelo que
podíamos lá dentro encontrar, mas por um qualquer equilíbrio magnetizador em
que tudo se achava. Abraçado a Ela, aproveitei a oportunidade para comprar uns
chinelos novos. Nem a melhor recauchutagem poderia acudir aos chinelos que
calçava. Seis anos de existência e meio mundo calcorreado, tornavam óbvia a fidelidade
à marca. Optei por um modelo exactamente do mesmo formato. Não havia por isso
quaisquer dúvidas em relação ao tamanho. Em relação aos chinelos que suportavam
o peso do meu corpo pela última vez, só se encontravam duas diferenças: a cor e
o estado em que se encontravam. Apesar de todas as certezas (marca, modelo e
tamanho) decidi experimentar os novos chinelos. Uma prova dos nove que se
revelou obviamente desnecessária pois os chinelos serviam na perfeição. A única
barreira que ainda impedia que os novos chinelos encontrassem morada imediata
nos meus pés era acertar as contas com a funcionária da loja. Enquanto tirava o
dinheiro da carteira, Ela com quem entrei abraçado na loja, perguntou: “<i>Vais mesmo levar esses chinelos?</i>”. “<i>Claro que sim</i>”, respondi eu. Ela anuiu
com um “<i>Ah, ok</i>”. Vi uma certa
incredulidade na sua expressão e inquiri-lhe os pensamentos. “<i>É que os chinelos não te servem. São
pequenos.</i>”. Se alguém conhecia os meus pés, esse era eu. Já estava preparado
para lhe dizer - “<i>Estás ver como são os
outros?</i>” - quando enfiei os dedos nos chinelos que me deu a experimentar. Apenas
consegui verbalizar um “<i>Obrigado</i>” porque
aquele sim, era o meu tamanho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Saí da loja
abraçado a Ela e sorri para a velha gelataria uma última vez. Desta vez mais
rico do que quando cheguei, pois afinal de contas, agora sabia um pouco mais
sobre mim próprio. E foi por elas que o
descobri. Pela velha gelataria e por Ela que me abraçava…<o:p></o:p></span></div>
</div>Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-22823810068490893932012-07-24T16:37:00.002+01:002012-07-24T16:37:12.179+01:00A casa de banho gourmet<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Hoje falaram-me da
existência de uma espécie de casa de banho <i>gourmet</i>.
Pelo pagamento de uma modesta tarifa (necessidade incluída no preço) poderemos
ter assim acesso a toda uma experiência sensorial. O salmão com alcaparras conseguiu,
ainda que por uma breve vantagem, manter a minha atenção confinada no almoço, e
por isso, os pormenores sobre esta casa de banho tiveram de esperar pelo café
pós-prandial. As nuvens com aroma a grão torrado ainda se desprendiam da
chávena quando descobri toda uma série de artigos a fazer referência a “The
Sexiest WC on Earth”. Limitei o meu interesse à informação disponibilizada na
primeira página do motor de pesquisa. Certamente que esta casa de banho terá os
seus créditos e que merecidamente deverá constar do roteiro turístico da
cidade. Não ponho isso em causa e aproveito desde já para desejar o maior sucesso
aos seus criadores e momentos bem passados a todos os seus visitantes. O que
acontece é que eu já tenho bem claro sobre qual a casa de banho mais sexy do
planeta, e por isso, não estou interessado em investir o meu tempo nesta nova
atracção. Arrisco-me a ficar para sempre na ignorância, mas como em tudo na
vida, temos de tomar as nossas opções e arcar com as devidas consequências. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="PT">Encontrei um dia almoço
nos arrabaldes do Hospital de Évora. Recordo-me perfeitamente que pedi o prato
errado. Não que este estivesse mau, mas porque o que efectivamente me apetecia
era a iguaria que constava em quarta posição da lista de pratos do dia. A
sofreguidão dá nesta coisas e só após umas quantas azeitonas e fatias de pão,
me apercebi da precipitação que tinha cometido. Conta paga e é tempo de
regressar a Lisboa, mas nunca antes, de uma actualização da função renal. A
casa de banho era do género minimalista: uma retrete, um lavatório e uma toalha.
Até aqui nada de novo, não é verdade? Acontece porém que as paredes encontravam-se
repletas de posters e fotografias de mulheres seminuas. Sobre diferentes
paisagens e nas mais diversas poses. É sempre arriscado rir quando se urina de
pé, mas não consegui conter a minha alegria. Pensei em inúmeras motivações que poderiam
justificar tal decoração, mas algo muito mais importante animava a minha mente:
“Como será o WC feminino?”. Uma curiosidade infantil instalou-se em mim sem que
eu tivesse oportunidade de a negar. Recordo-me de lançar os olhos pelo balcão
do restaurante antes de me atirar para dentro do WC feminino. Poucos segundos
bastaram para conhecer a verdade: uma retrete, uma lavatório, uma toalha e
inúmeros posters de homens seminus. Saí do restaurante e, em cima da minha
mesa, a maior gorjeta que deixei na vida… <o:p></o:p></span></div>
</div>Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-74626006080768295902012-01-04T19:36:00.000+00:002012-01-04T19:36:32.489+00:00Ensaio sobre a primeira pessoa do pluralA aritmética da linguagem postula que a soma do Eu com o Tu tem como resultado o Nós. A pressão de não viver numa ilha deserta, obriga-me a aceitar tal operação como uma verdade absoluta, sob pena de me tornar um proscrito. Em público digo que sim, mas na segurança do meu quarto, digo que não. No meu espaço não faço concessões a crenças alheias. Haverá certamente muitas formas distintas de provar que o Eu + Tu ≠ Nós. Obviamente que qualquer teoria explicativa iria sempre perecer de peritagem. Não duvido que existam muitos especialistas de bancada, mas nenhum se atreveria a partilhar as suas ideias no grande auditório. A minha teoria é bastante simples e tem origem na minha vida de lenço e jarreteiras: se a etiologia do Nós estiver relacionar com a palavra Nó, então este Nós, terá de ser o de escota. Qualquer escuteiro dirá, que para unir duas cordas de diferente espessura, se deverá fazer o nó de escota. Sujeitinho de difícil execução e bastante moroso. Nesta linha de pensamento, o Nós seria assim algo de concepção complicada e que demoraria muito tempo. Escusado será dizer que esta é a leitura que quase toda a gente tem do Nós. A união do Eu ao Tu é por isso muitas vezes associada a cedências, obrigações e adaptações. E quantas vezes o Eu e o Tu não se perdem neste caminho? Basta ver o que acontece quando o Nós termina: o Eu e o Tu a procurar referências antigas de quem eram antes do Nós. Os seus prazeres, vontades e orgulhos.<br />Acredito num Nós maior. Nunca enquanto somatório do Eu e do Tu. Algo que não principia no Eu ou termina no Tu. O Nós é uma vocação, uma missão. Personalidade independente, com os seus próprios gostos, desejos e vaidades. Uma linguagem que é sinónimo de pureza. Desenhada num céu de estrelas, fiada a linho silvestre, cozinhada em lume brando. Nenhum ensaio sobre a primeira pessoa do plural lhe faria jus. E estando o Nós refém da sorte do destino, não sei porque decidi escrever sobre isso…Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-44980723034766713782011-12-27T14:23:00.007+00:002011-12-27T15:20:54.010+00:00O eco que preenche todos os lugaresO eco da minha voz é audível independentemente do lugar em que me acho. O meu passaporte deu-me a riqueza de testemunhar diferentes naturezas. Ontem um templo milenar e um glaciar multicolor, hoje uma gruta perturbadora e um deserto de areias quentes, amanhã uma sala de espectáculos e uma plantação de café. Descobri que pouco importa o pano de fundo em que encontro. O eco da minha voz está sempre presente. Haverá por ventura quem não acredite em tal facto. Os maiores cépticos não serão necessariamente os académicos e cientistas, mas sim os impacientes. O eco sempre se escuta, mas como tudo na vida, demora o seu tempo. Tem a sua agenda e horários próprios. Não se adianta, não se atrasa.<br />A natureza em que nos encontramos, nada mais é que o reflexo do nosso estado de espírito. A confiança e a felicidade conseguem um eco imediato como a música de uma orquestra num concerto de ano novo. A incerteza e a tristeza por sua vez, obtém um eco fugidio como a brisa de vento que agita os velhos castanheiros.<br />O eco é um acto de fé sobre as nossas próprias palavras. Por vezes não queremos escutar aquilo que sempre soubemos e o eco parece assim não existir. Isto é particularmente evidente quando estamos perante uma paisagem específica: o Ser Humano. Quantas vezes perdemos o rasto de quem somos perante a presença dos outros? A nossa voz parece muda, os nossos ouvidos parecem surdos.<br />Quantos vazios já todos nós presenciámos? Quantas respostas por dar, resoluções por tomar, caminhos a seguir? A lenta agonia estampada no nosso rosto, o siliêncio férreo cravado no rosto de outrem. E o eco das palavras que dissemos a escapar-se como se perante um hábil ladrão.<br />As respostas, resoluções e caminhos que ansiosamente precisamos, nada mais são do que as nossas próprias palavras. Todos os dias atento ao retinir das minhas palavras, e mesmo quando me perco, acredito que o meu eco me guiará...Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-50695566116241351992011-05-04T23:32:00.006+01:002011-05-05T00:43:35.593+01:00No lugar comum<span lang="PT">Há uma história da qual não faço parte que se desenrola num local aonde não me encontro. Não reconheço o vibrar da minha voz, ou aqueles que dizem ser, os movimentos voluntários do meu corpo. A emoção que inunda a audiência não advém da fornalha dos meus afectos. Nego o meu envolvimento nos andamentos desta composição. É impossível estarmos a falar de mim, pois há muito tempo, que decidi quem querer ser. Não posso por isso ser eu. De forma nenhuma o poderia ser.<br />Querem no entanto fazer-me crer do contrário. Que até este pequeno texto encontra morada certa no argumento que conduz toda esta encenação. Palavras inseridas no capítulo em que se narra a reflexão do herói. Em que toda a jornada se encontra suspensa numa só questão: "- Serei eu mesmo este que aqui se interroga?". Inúmeros artifícios são burilados para me convencerem que este aqui se trata efectivamente de mim. Afirmam que as minhas falas foram ensaiadas, mesmo quando improviso interjeições de contestação. Que os silêncios suspirados são exactamente o som que se deveria pressentir no guião. Ou que os movimentos nervosos do meu corpo se fundem delicadamente com o cenário de cada trecho. Nada há de artificial, apenas tenho que me deixar levar.<br />Mas não pode ser. Isto é tudo uma ilusão. Não me deixo enganar assim. O "<span style="font-style: italic;">e de noite, de noite sonho contigo" </span>não existe<span style="font-style: italic;">. </span>Apenas é real o <span style="font-style: italic;">"não te quero, eu digo que não te quero". </span><span>Por que eu o decidi assim. Não quero esse lugar comum aonde tudo faz sentido. No qual todos se encontram, ou todos para lá caminham. Eu optei pelo trilhar do caminho inverso. Sem olhar para trás e para tudo o que lá existe. E agora dizem-me que isso nada mudou? Que a minha decisão foi apenas a de não querer compreender. Por que este lugar comum não é murado. Que não existem as encostas que acreditei subir. Nunca daqui saí e nunca deixei de ser quem era. Afinal também havia um capítulo da negação em toda esta história...abastado mundo dos emoções...quem sou eu para te dizer que não...<br /></span></span>Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-68903417458183628582011-03-29T06:02:00.004+01:002011-03-29T07:42:27.340+01:00As noites em que as palavras me despertamAs palavras fazem ouvir-se demasiado alto para as poder ignorar. O sono de alerta que me caracteriza está afinado a ponto de detectar mínimas alterações da realidade. O canto madrugador da cotovia, a criança do 2º andar que precisa de mamar, o vento que passa mais apressado.<br />Raras não são as vezes em que desperto ao som das minhas palavras. É impossível precisar o momento em que o tumulto se instala no vale dos meus lençóis. A minha inquietação de compreender o mundo obriga-me a dar nomes a todas as coisas, e estas palavras em tropel, tomaram o nome de <span style="font-style: italic;">Indiana Jones</span>. Há sempre uma frágil ponte, feita de lianas e troncos de madeira, que une dois desfiladeiros. De um lado, canibais famintos e mil artefactos a descobrir, do outro, a tranquilidade das paredes de uma universidade. É no centro desta ponte, que liga o sonho à realidade, em que muitas vezes me encontro.<br />O natural cansaço provocado pelas noites em que as palavras me despertam, é apenas um pequeno pormenor desta fotografia. É um cabelo desalinhado, um atacador desapertado, a fralda fora das calças. Não tem importância alguma. O que é realmente mágico são efectivamente as palavras que descubro nestas noites mal dormidas. Por que representam o casamento perfeito entre o mundo dos sonhos e a realidade. E daí se fazerem ouvir com tanta folia e regozijo como à porta dos adros das igrejas .<br />Sei exactamente aquilo que irei dizer daqui a pouco. Na verdade, quaisquer simples palavras objectivas bastariam para o efeito pretendido. Mas depois desta noite, tenho agora comigo as melhores palavras que poderia ter. Um desperdício de palavras tão boas para algo tão sem importância.<br />Lamento imenso a intermitência destas noites em que as palavras me despertam. Em que descubro palavras forjadas no mundo dos sonhos, mas que lambem a mais pura das realidades. Não existem "palavras que nunca te direi". Existem sim palavras por descobrir no interior da corda bamba das nossas vidas. Das reais, das paralelas. Talvez, quem sabe, uma destas noites, encontre por fim as tuas palavras...Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4563491884436876994.post-9896818260961474582010-12-28T13:54:00.009+00:002010-12-28T16:25:22.691+00:00Para lá daqueles montes<p>Há um lugarejo ao qual pertenço para lá daqueles montes. Nado e criado em latitudes mais a Sul, mas ainda assim, filho das gentes dessa terra. Nas minhas veias tão pouco corre o sangue gélido daquele granito. Chamaram-me de <em>Pistolas </em>no dia em que me conheceram. Mas muitos anos antes, e diante a pia baptismal, outros deram-me o nome de João. A liberdade do pecado original em troca da minha verdadeira identidade? Por que na verdade, é a alcunha de <em>Pistolas </em>que me liga ao chão. À genuidade e pureza do ser humano. Nunca lá vi as perdizes que dão o nome a esse vilar, mas testemunhei carrinhas cravejadas de balas de G3. Museus vivos dos tempos áureos do contrabando em que se acendiam cigarros com notas de vinte escudos. Haverá um caldo de sopa quente à minha espera acompanhado por um carrilhão de insultos. A minha prolongada ausência assim o justifica. Cometerei ingenuamente o habitual erro de cortar o pão e o chouriço, à moda da cidade. E enquanto o carvalho faz o braseiro, o riso irá fluirá à minha custa. Ninguém me virá acordar, mas irei despertar ainda de noite. As caras familiares estarão todas reunidas ao pé do barracão, enquanto eu ainda tento aquecer as mãos no forro dos bolsos. As facas são afiadas e os porcos morrem de um só golpe. Fico sempre supreendido como a tensão desaparece num instante. A minha, e a dos animais. Há trabalho para fazer, mas ao mesmo tempo, já há fogo pronto para as assaduras, e o velho pote de ferro, ferve o sangue que ainda há pouco jorrava. E haverá depois uma malga de vinho para brindar a estes comeres. Quem sabe até, uma ida ao café, para uma bebida generosa. O focinho fumado irá à sucapa cair-me no prato quando nos dispusermos na mesa. Haverá vozes de protesto mas a <em>Helena</em> tratará de me defender tal como uma mãe protege uma cria. "<em>Sois todos uns preguiçosos. O Pistolas é o único que trabalha"</em>. Uma das poucas injustiças que honestamente não me revolta. Irei acompanhar o <em>Xeris </em>pela raia espanhola na venda do pão. Haverá rugas galegas a dizer "<em>Hoxe trouxese guardaespaldas? Déixase o estar comigo</em>". E enquanto a carrinha ginga monte acima ouvirei as últimas da terra. O <em>João Barraqueiro </em>andará à urze e às giestas que manterão quente o forno do <em>Revisor.</em> O<em> Zé </em>irá divertir-se com a minha destreza a amassar o pão e que certamente me valerá as sempre sábias palavras transmontanas do <em>Eliseu:"Minhotos e galegos é vê-los é fodê-los". </em>O <em>Acácio</em> certamente que reclamará uma madrugada a sós comigo para a desmancha dos presuntos<em>... </em>E ainda haverá tempo para cortar abóboras e quase perder um dedo. Para lançar biscas de trunfo secas e de sofrer golos impossíveis na mesa dos matrecos. O frio da geada ganha expressão na forma como me querem. Nas gargalhadas que se fazem ouvir. Tal como a <em>Carla</em> escreveu: <em>"A minha mãe ( e o resto do povo de Vilar) tambem não falava de outra coisa a não ser do Pistolas na matança. Dizia que fazias falta pelo menos para fazer rir...".</em> Aqui reside o nosso acordo. Eu faço-os rir, eles dão-me quem são. O coldre está colocado... </p>Bulakhttp://www.blogger.com/profile/08267001555031402337noreply@blogger.com1