quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quando o tamanho faz a diferença

O tamanho faz a diferença? Esta é uma questão que tem sido muito discutida ao longo dos tempos. Em determinados propósitos, as respostas dadas podem até pecar de honestidade. Mas de uma forma geral consegue-se alcançar maioria absoluta para a maioria das questões: os laterais de uma equipa de futebol devem ser altos, a mala de um carro deve ser grande, os bolinhos de bacalhau devem ser pequenos.
O leite escolar é aqui substituído por um pão e uma banana. A azáfama em torno do pequeno- almoço é algo que só mesmo visto. A minha segunda aula do dia é dada a míudos de 7-8 anos e acontece imediatamente após a distribuição dos pães e das bananas. Chego sempre à sala no pico máximo do caos. Sacos de pão a explodirem como balões, cascas de banana pelo chão, copos de água entornados. Os primeiros minutos desta aula são sem dúvida alguma a tarefa mais extenue do dia. A ordem é a custo reposta e a aprendizagem finalmente pode começar.
A aula desta manhã foi no entanto diferente. Cheguei à sala e o pequeno almoço ainda não tinha sido distribuído. Principiei a aula e os alunos seguiram as minhas indicações. O pequeno-almoço chegou quando a aula já ía a meio. Os ânimos continuaram serenos pois o exercício que estavam a fazer era bastante cativante. Muito calmamente comecei a distribuir as bananas e os pães. A certa altura alguns alunos vieram ter comigo com reclamações. Escusado será dizer que a nossa comunicação é basicamente feita por gestos. Algumas bananas estavam pisadas ou maduras demais ou com a casca rasgada.
Não percebi muito bem qual era o meu papel naquele momento, pois até hoje, ainda não tinha passado por tal situação. Deixei por isso serem os tais alunos a liderarem as operações. Inclinaram-se para a porta e sairam da sala. No chão do corredor encontravam-se nesse momento dezenas de cachos de bananas. Os alunos agacharam-se, pousaram a banana indesejada e preparam-se para arrancar uma nova. O corredor encontrava-se vazio e eu fiquei sem saber até que ponto é que eles poderiam ou não fazer aquilo. Com um movimento rápido atirei-os para dentro da sala e tratei eu de arrancar as bananas. A ser alguém apanhado em flagrante delito, que fosse eu. Distribuo as bananas pelos queixosos e tento proseguir a aula com o caos habitual já instalado.
Um aluno chama pelo meu nome e manisfesta o seu desagrado face à banana que lhe calhou na sorte. Tomei a banana nas minhas mãos como se fosse um objecto raro e analisei-a atentamente. A mesma estava em perfeitas condições. Não havia absolutamente nada a apontar. Devolvi a banana ao remetente e o gongo soou. Dirigi-me ao aluno e tentei perceber qual era afinal o problema da banana. Num gesto só percebi o problema. Era demasiado pequena. As bananas da Madeira dificilmente conseguiriam ser exportadas para aqui. Pobreza e gourmet têm feitios bem diferentes...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Prescrições de sorrisos

A propaganda chegou ao Bangladesh em forma de canetas. A fila indiana pareceu não ter fim. A cada segundo juntavam-se mais e mais crianças, todas na expectativa de conseguir uma caneta. As mães enfiavam os filhos à força na fila já composta, também elas na esperança, que a sorte bafejasse os seus rebentos. O mais interessante neste fenómeno é o facto de todas estas canetas terem sido distribuídas por um médico. O resultado de todas as visitas de informação médica, teve finalmente expressão. Não em prescrições, mas em caras felizes. Parece-me um saldo francamente positivo...
A manhã do primeiro dia de folga é ocupada a aprender críquete. Após alguns lançamentos e de um curto jogo de futebol, as actividades desportivas são interrompidas, pois nós temos de seguir para um casamento. As crianças são incentivadas a permanecer em campo, mas elas são as primeiras a querer ir embora. O sol é abrasador e os seus raios parecem incidir directamente nos seus estômagos vazios.
A história do casamento é de uma doçura tal, que provocaria certamente hiperglicemias, apenas pela sua audição. Fico-me por isso pelo final do dia e pelo passeio de barcaça por entre um lago parido pelas águas das chuvas. Os barcos que se cruzam dão motivo a acenos e a sorrisos. E a pés de dança também. E uma vez mais, regressamos carregados...