quarta-feira, 29 de abril de 2009

Dia Primeiro


Dia Primeiro. Mochila cheia. Mente aberta. Poucos planos. Muitas certezas.

terça-feira, 21 de abril de 2009

25cl de Merlot

Paris amanheceu solarenga especialmente para mim. Decidi retribuir tal gesto com um amplo sorriso de bonjour. Comecei o dia numa pâtisserie e pedi uma baguette e um capri-sun. A total inexistência de conhecimento da língua francesa não foi um obstáculo ao meu pedido, pois o dedo indicador é exemplo de globalização desde há muito tempo atrás (coisa de 15 dias talvez). Não sei se embriagado pela alegria com que Paris me estava a receber ou por simples falta de observação atenta, o que é facto, é que a baguette não continha queijo fresco, mas sim requeijão. A muito custo lá fui dissecando a baguette até não restarem vestígios de tal nata de leite coalhada. Mas o sabor estava lá. Que desilusão de petit dejeuner. Foi como se o ânimo tivesse molhado os pés nas águas escuras do Seine.
A pouco e pouco a laranja do capri-sun foi libertando o sabor de requeijão que teimava em ficar agarrado à minha goela, como um qualquer mexilhão agarrado a uma rocha marinha. A boa disposição reapareceu quando encontrei um longo mercado de rua. Havia de tudo um pouco: legumes, fruta, carne, flores, moluscos, queijo, vinho, peixe e pão. Houve vários fromages que tentaram arrepiar caminho pelo meu sistema respiratório, mas nada como ir espreitar uma poissonnier, para neutralizar tais ataques.
A mistura de aromas do mercado despertou a fome matinal que a baguette mal tinha saciado. Tinha algumas referências gastronómicas na algibeira, como um chocolate quente na Quai de Valmy ou um chá de menta da La Grande Mosquée de Paris. Para lanchar estava por isso bem servido, mas para almoço e jantar, estava por minha conta e risco.
Decidi entrar num restaurante Vietnamita. O menu estava em duas línguas: francês e vietnamita. "Ainda bem que falo as duas" - pensei eu. Decidi-me por um prato do meio da tabela e olhei para a Carte du Vin. A escolha não foi nada fácil, mas pareceu-me que 25cl de Merlot seria o ideal. O copo de vinho chega antes da comida e rapidamente molhei os meus lábios em tal tinto. Pude então começar a reparar nas mesas à minha volta. Uma imagem rapidamente se tornou comum a todas as mesas: a chaleira. Todas as pessoas estavam a beber chá com excepção de mim. Senti-me super embaraçado e não parava de visualizar como nota de rodapé a velha máxima "Em Roma sê Romano". Suspirei quando a comida veio para a mesa e pude então descansar a alma, num caldo de verduras...quão difícil é ser Português em Paris num restaurante Vietnamita.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Dívidas

Passei a Páscoa em trânsito e não comi qualquer fatia de pão-de-ló. Tratei por isso de encomendar uma fatia a uma pessoa: "come uma fatia de pão-de-ló por mim". É realmente necessário ser uma pessoa muito especial para aceitar este meu pedido. Toda a gente sabe que uma fatia à Jonny tem um tamanho assinalável. Vá...tipo muralha da China. Estou a exagerar talvez. Mas caraças, vista do espaço também não é assim tão grande. Basicamente trata-se de uma fatia cujas duas mãos são necessárias para a sua sustentação. Pronto é isso.
Hoje descobri que essa pessoa afinal, não tinha comido a tal fatia de pão-de-ló. Por sua vez, decidiu sim, comer uma fatia de bolo de bolacha, sendo que a mesma foi roubada do prato da sobrinha. Tirar algo a um menor para alimentar o ego de um maior é algo que não se vê todos os dias. Imagino o turbilhão de emoções que tal pessoa não terá sentido . É preciso ter um sentido de abnegação muito forte, para realizar um gesto tão magnânimo.
Eu agora estou em dívida para com essa pessoa e estou mesmo a ver que a brincadeira vai-me sair bastante cara. A pressão está sem dúvida alguma do meu lado. Tenho até um certo receio de não vir a estar à altura dos acontecimentos, quando essa pessoa decidir cobrar esta dívida. É que depois da fatia de bolo de bolacha roubado à sobrinha, eu só posso esperar uma factura da mesma dimensão.
Parece que já me estou a ver na Grande Barreira do Coral a receber um sms: "vai nadar por mim com tubarões brancos". Ou então no Cambodja: "bebe uma cerveja por mim com um membro do Khmer Vermelho". Quem sabe até na Índia: "faz uma festinha por mim a um tigre de Bengala". Se receber um pedido deste género irei passar vergonha e não conseguirei pagar a minha dívida. Prefiro no entanto passar a vergonha de ter o homem do fraque a bater-me à porta a meter-me naquelas águas frias, a andar a beber bebidas alcoólicas ou a arriscar-me a apanhar carraças.
Enfim, o mundo na crise que está, e eu a acumular dívidas. Há realmente pessoas inteligentes.

domingo, 12 de abril de 2009

Acordes de Verão

Disse-te que uma dia voltaria, mas que agora teria de ir. Estavas desolada mas mesmo assim dei-te o meu melhor sorriso e gozei contigo por teres vestido a camisola do avesso. Não querias largar o meu pescoço. Mandei-te embora e pude então morrer. Não queria que me visses moribundo. Tronco de árvore à deriva na correnteza. Procurei-te por todo o lado. Na fotografia passe em que dizias que estavas bonita, no cheiro que restou de ti colada ao meu corpo, no cubo mágico em que apenas nos faltou fazer duas faces. Parece que ainda te consigo ouvir:"Vamos deixar o amarelo e o azul para o fim. São as nossas cores. Deixamos o fácil para o fim".
Já levava mais de seis horas de viagem quando o revisor chegou ao pé de mim. Demorei imenso tempo a encontrar o bilhete e o homem alto de cabelos grisalhos não se proibiu de dizer:"Se não encontra o seu bilhete é por que se calhar não tivesse que fazer esta viagem ". Odiei-o nesse instante. As minhas incertezas seriam assim tão transparentes? Passou-me tudo pela cabeça.
Nunca pensei encontrar-te. Era um acampamento como todos os outros. Os melhores amigos, churrasco e sacos-cama. Eu estava sentado na tenda de guitarra no colo, e tu vinhas de tomar banho. Não nos conhecíamos. Mas vinhas a cantar a música que eu estava a tocar. Lembras-te aonde ías? "...faz desses rumos os caminhos teus...". A tua voz bateu perfeita no acorde em que eu ía. Nenhum de nós conseguia acreditar no que estava a acontecer. Continuaste a cantar e eu comecei a fazer a segunda voz. Ainda tinhamos mais 2 versos e 2 refrões em conjunto. E as férias grandes ainda estavam a começar.
Nem acredito que agora estou a fazer a viagem inversa. Vou para ficar. Embalado pelo compasso dos carris que evocam esses acordes de Verão. Não largo o bilhete da mão e estendo-o ao mesmo homem alto de cabelos grisalhos. "- Aqui tem o meu bilhete. Este não é como o outro. Este é só de ida".

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Malha polar

Tenho saudades dos gajos do Big Brother. Zé Maria, Marco, Mario e Telmo. Isto sim eram homens como deve ser. Os homens de hoje em dia são uma vergonha. Sinceramente. Raios os partam. Cambada de panascas em forma de homem.
Vestem malha polar e mandam mensagens para o Hi5. Vão ver as Winx com os sobrinhos e vão a cursos de cozinha vegetariana. Usam hidratantes para o rosto e andam no body pump. Escrevem em blogs e são sócios da associação portuguesa de apoio à vítima. Andam de patins em linha e bebem panaché. Jogam ao singstar com as namoradas e comem comida chinesa com pauzinhos. Alugam filmes como P.S. I Love You e passam a ferro a sua própria roupa.
Eu se tivesse alguma influência política acabava já com a porcaria dos Morangos com Açucar e punha no ar em horário nobre a primeira edição do Big Brother. Era um medida simples (ou simplex) e ainda poderia ser que se conseguisse intervir naqueles que serão os homens de amanhã.
Homens a sério andam à volta das galinhas para não aturar as mulheres. Quando a conversa não lhes agrada dizem com toda a seriedade do mundo "Como? Desculpe Teresa, mas não estou a ouvir bem". São objecto de programas como o "Mulheres de A a Zé" que em tradução livre quer dizer "anda cá pita pita pita pita".
Homens a sério espetam biqueiros nas mulheres e são muito claros no seu discurso "Tu cala-me já essa boca ou parto-te a cara toda tás a ouvir?". Treinam kickboxing contra as paredes de casa e trabalham para o bronze das 12h às 14h apenas com uma folha de couve galega a tapar os ditos cujos.
Homens a sério utilizam sempre a mesma expressão para se explicarem:"Tás a ver, tás a ver". Não fazem puto em casa e são campeões Ibéricos de kickboxing em combates combinados. Vão parar a Custoias por vontade própria e apenas por que a feijoada lá é muito boa.
Homens a sério é claro que fizeram tropa. Têm como lema "se não vai pela frente vai pela guarita" e gostam de mulheres que correm na passadeira com duas sandes de pão rico na mão. Não temem os ácaros e se fôr preciso ainda utilizam uns fight divers ou faith divers, consoante a preferência linguística.
Infelizmente já não há homens assim...ou se calhar até há.