terça-feira, 21 de abril de 2009

25cl de Merlot

Paris amanheceu solarenga especialmente para mim. Decidi retribuir tal gesto com um amplo sorriso de bonjour. Comecei o dia numa pâtisserie e pedi uma baguette e um capri-sun. A total inexistência de conhecimento da língua francesa não foi um obstáculo ao meu pedido, pois o dedo indicador é exemplo de globalização desde há muito tempo atrás (coisa de 15 dias talvez). Não sei se embriagado pela alegria com que Paris me estava a receber ou por simples falta de observação atenta, o que é facto, é que a baguette não continha queijo fresco, mas sim requeijão. A muito custo lá fui dissecando a baguette até não restarem vestígios de tal nata de leite coalhada. Mas o sabor estava lá. Que desilusão de petit dejeuner. Foi como se o ânimo tivesse molhado os pés nas águas escuras do Seine.
A pouco e pouco a laranja do capri-sun foi libertando o sabor de requeijão que teimava em ficar agarrado à minha goela, como um qualquer mexilhão agarrado a uma rocha marinha. A boa disposição reapareceu quando encontrei um longo mercado de rua. Havia de tudo um pouco: legumes, fruta, carne, flores, moluscos, queijo, vinho, peixe e pão. Houve vários fromages que tentaram arrepiar caminho pelo meu sistema respiratório, mas nada como ir espreitar uma poissonnier, para neutralizar tais ataques.
A mistura de aromas do mercado despertou a fome matinal que a baguette mal tinha saciado. Tinha algumas referências gastronómicas na algibeira, como um chocolate quente na Quai de Valmy ou um chá de menta da La Grande Mosquée de Paris. Para lanchar estava por isso bem servido, mas para almoço e jantar, estava por minha conta e risco.
Decidi entrar num restaurante Vietnamita. O menu estava em duas línguas: francês e vietnamita. "Ainda bem que falo as duas" - pensei eu. Decidi-me por um prato do meio da tabela e olhei para a Carte du Vin. A escolha não foi nada fácil, mas pareceu-me que 25cl de Merlot seria o ideal. O copo de vinho chega antes da comida e rapidamente molhei os meus lábios em tal tinto. Pude então começar a reparar nas mesas à minha volta. Uma imagem rapidamente se tornou comum a todas as mesas: a chaleira. Todas as pessoas estavam a beber chá com excepção de mim. Senti-me super embaraçado e não parava de visualizar como nota de rodapé a velha máxima "Em Roma sê Romano". Suspirei quando a comida veio para a mesa e pude então descansar a alma, num caldo de verduras...quão difícil é ser Português em Paris num restaurante Vietnamita.

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