terça-feira, 31 de agosto de 2010

O trinómio da saudade

A saudade é algo incrivelmente fascinante. Convivo diariamente com este sentimento, mas nada sei a seu respeito. Já o convidei várias vezes a sentar-se comigo para falarmos um pouco, mas a sua postura é sempre a mesma. Faz o que tem a fazer com profissionalismo e depois esfuma-se até nova visita. Não existe ferrolho capaz de deter os seus intentos. Somos uma esponja indefesa que absorve todas as suas vontades.
Não sei qual é a pior face das saudades. Os mais orgânicos acusarão as saudades passadas como sendo o seu rosto mais assustador. A mocidade que já não volta, os mortos enterrados, as grandes aventuras vividas. Os mais obstinados declararão as saudades presentes como a mais vil forma de expressão. A consciência imediata do irrepetível, da perda dali a uns momentos, da nostalgia que em seguida se abaterá. Os mais eloquentes condenarão as saudades futuras ao mais terrível castigo. Aquilo que não se viverá, as pessoas que desaparecerão, as conquistas que não se partilharão.
Talvez a saudade seja o resultado deste trinómio. De uma coisa tenho a certeza absoluta. A saudade tem um valor constante para cada indivíduo. Se não conseguimos todos correr os 50 metros abaixo dos 10 segundos porque haveríamos todos de sentir o mesmo nível de saudade? Se a saudade tem então um valor constante, aquilo que tem de variar são os seus três termos: passado, presente e futuro. Há tantas formas de chegar a Roma como para chegar a um resultado. Se a minha constante de saudade fosse por exemplo 8 e tendo em conta ser o resultado do trinómio, tal 8 poderia ser obtido da seguinte forma: 8 saudades=3 (saudades passadas)+1 (saudades presentes)+4 (saudades futuras). A partir do momento em que as aulas de matemática me ensinaram os números inteiros, tudo se tornou mais curioso. Olhando para a expressão 8=17-3-6 somos tentados de uma forma infantil a dizer que estamos perante duas subtracções. Mais interessante é ver o 17 como um número positivo e o 3 e o 6 como números negativos. Se virmos a saudade sobre este prisma facilmente perceberemos que pouco interessa o tipo de saudades. Se passadas, presentes ou futuras. O verdadeiramente importante é o sinal associado a cada uma a cada instante. Daí se percebe o quanto se pode ser feliz apesar de tanta saudade...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A culpa é do Oscar senhores jurados

No princípio do ano corrente tomei uma importante resolução "Ao duodécimo dia do mês de Agosto irei completar o meu perfil no Facebook". O conteúdo daquilo que poderia escrever no perfil, é na verdade totalmente acessório à missão de tal rede social. Há muitos internautas que se referem ao Facebook como "Livro de caras". Esta tradução parece-me estar polvilhada de uma certa zombaria, mas a verdade é que, com ou sem chistes e motejos, a tradução acabaria por ser aceite nas aferições do antigo 5º ano. Se me fosse permitida uma tradução livre, cuja finalidade fosse, apenas e só, uma tradução espontânea e desinteressada, eu faria naturalmente uma tradução com base na leitura do conceito em si e na minha opinião sobre tal fenómeno. Facebook seria deste modo traduzido como "Álbum de fotografias boas à moda da Melanie".
A palavra "álbum" não acrescenta qualquer valor à tradução já existente. Interessa por isso dissecar os restantes componentes da tradução. "Fotografias boas" - As máquinas fotográficas digitais trouxeram consigo um conceito originário dos ginásios: as repetições. É universalmente aceite que são necessárias repetições de alguns exercícios físicos, para que o glúteo ou o abdominal, ganhem a forma pretendida. O mesmo se passa quase de forma inconsciente com as fotografias. São inúmeras as repetições fotográficas até que se obtenha o olho aberto, o perfil favorável ou o sorriso perfeito. O Facebook é por isso um repositório visual do nosso melhor. Pouco importa se tratando da trivialidade do dia-a-dia ou de um empreedimento maior. O importante é que é sempre o nosso melhor. "à moda da Melanie" - Para além da estrutura dos álbuns serem de uma originalidade invejável, o que é mais fascinante no trabalho desta minha amiga, é a criatividade imposta nas referências que estão associadas a cada fotografia. Não se trata de colocar uma simples referência à data ou local em que foram tiradas. Muito menos a identificação das pessoas que compõem a fotografia. São pequenas descrições e apontamentos que pulsam de vida. Tudo num equilíbrio maravilhoso que empolga quem manuseia semelhante álbum. Por vezes chega a parecer que as fotografias é que ilustram as palavras que estão escritas.
Animado por esta minha interpretação, decidi-me pela data de hoje como o grande dia. O dia em que eu iria colocar no Facebook as minhas melhores fotografias acompanhadas por comentários não menos virtuosos. Faltam menos de 4 horas para o dia terminar, e posso já sem qualquer dúvida afirmar, que hoje não o poderei fazer. Sei bem a tristeza que neste momento se abate em todos vós. Não quero arranjar qualquer bode espiatório para este terrível incidente. Posso, e devo, falar apenas a verdade. A culpa é do Oscar senhores jurados. Este ilustre indivíduo possui o meu disco externo no qual se encontram todas as minhas fotografias. Tal personagem, vá-se lá saber porquê, enfiou na cabeça que em tal objecto, poderia também encontrar um bocadinho do melhor de si próprio. Inocente como sou, emprestei-lhe tal objecto.
O destino troça realmente de nós. A letra da minha resolução do princípio do ano vence hoje, e amanhã mesmo, ser-me-á entregue o disco externo. Amanhã é efectivamente tarde de mais por que uma nova resolução princípia com o novo dia. "A partir do tredécimo dia de Agosto irás gravar todas as fotografias em duplicado para poderes actualizar o melhor de ti a qualquer momento".
E no fim de contas o destino dá ares de importância com mais um volta extraordinária nesta história fantástica. O que a gente não faz para se sentir enquadrado na sociedade...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Huge discount

Um dia a idade chegou. O espelho testemunhou a existência de crateras no couro cabeludo e a minha caixa do correio foi sacudida pela imagem aqui presente. Perante estas occorências há na verdade pouca coisa a fazer. Posso sempre entristecer-me pela primeira e alegrar-me pela segunda. E é exactamente isso que vou fazer. Pronto, missão cumprida. Já estou triste e alegre. Mas como a tristeza não paga o serviço da minha mulher-a-dias (leia-se, os anos de vida que perco a arrumar a casa), irei apenas celebrar a enorme alegria que a segunda ocorrência me provocou.
Não há nada melhor do que lembrarem-se de nós. Saber que somos objecto de afetividade e dedicação. Senti o coração transbordar de alegria quando vi a frase que acompanhava a imagem.
Hey, joao.sousa, 80% off, Final Sale. Especially during ponti exchange. O meu nome. Tudo aquilo apenas para mim. Este gesto comoveu-me imensamente. Mas a profundidade desta imagem catalizou a minha alegria para um nível até aqui desconhecido. Não sei o que mais me tocou neste cocktail de emoções. Se o polegar em riste, se o cabelo penteado para a frente. Se a referência a comprimidos para profissionais, se o fio por dentro da camisa. Se a expressão facial do actor, se a tetra utilização da expressão huge discount.
A calvície é realmente algo muito vil. Já não basta o mal que provoca só por si, como a maioria dos tratamentos para a combater, têm como efeito secundário (será primário??) alterações nos níveis da testosterona. O huge discount é sobejamente atrativo, mas creio que a velha máxima, É dos carecas que elas gostam mais, deverá imperar. De contrário ainda me arrsicaria a receber diariamente enourmous, great, big, large, wide e vast discounts. Acho que isto não me alegraria segunda vez...