quarta-feira, 15 de abril de 2009

Dívidas

Passei a Páscoa em trânsito e não comi qualquer fatia de pão-de-ló. Tratei por isso de encomendar uma fatia a uma pessoa: "come uma fatia de pão-de-ló por mim". É realmente necessário ser uma pessoa muito especial para aceitar este meu pedido. Toda a gente sabe que uma fatia à Jonny tem um tamanho assinalável. Vá...tipo muralha da China. Estou a exagerar talvez. Mas caraças, vista do espaço também não é assim tão grande. Basicamente trata-se de uma fatia cujas duas mãos são necessárias para a sua sustentação. Pronto é isso.
Hoje descobri que essa pessoa afinal, não tinha comido a tal fatia de pão-de-ló. Por sua vez, decidiu sim, comer uma fatia de bolo de bolacha, sendo que a mesma foi roubada do prato da sobrinha. Tirar algo a um menor para alimentar o ego de um maior é algo que não se vê todos os dias. Imagino o turbilhão de emoções que tal pessoa não terá sentido . É preciso ter um sentido de abnegação muito forte, para realizar um gesto tão magnânimo.
Eu agora estou em dívida para com essa pessoa e estou mesmo a ver que a brincadeira vai-me sair bastante cara. A pressão está sem dúvida alguma do meu lado. Tenho até um certo receio de não vir a estar à altura dos acontecimentos, quando essa pessoa decidir cobrar esta dívida. É que depois da fatia de bolo de bolacha roubado à sobrinha, eu só posso esperar uma factura da mesma dimensão.
Parece que já me estou a ver na Grande Barreira do Coral a receber um sms: "vai nadar por mim com tubarões brancos". Ou então no Cambodja: "bebe uma cerveja por mim com um membro do Khmer Vermelho". Quem sabe até na Índia: "faz uma festinha por mim a um tigre de Bengala". Se receber um pedido deste género irei passar vergonha e não conseguirei pagar a minha dívida. Prefiro no entanto passar a vergonha de ter o homem do fraque a bater-me à porta a meter-me naquelas águas frias, a andar a beber bebidas alcoólicas ou a arriscar-me a apanhar carraças.
Enfim, o mundo na crise que está, e eu a acumular dívidas. Há realmente pessoas inteligentes.

Sem comentários: