terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cartografia

A noite cai adiantada no tempo, mas a luz permanece com a mesma intensidade. As bruxas assobiam em tom menor, mas a canção segue as notas da partitura. O frio gela o Outono das folhas perenes, mas o calor continua quente. Lá fora tudo se desmorona, mas junto de ti, a claridade, a melodia e o aconchego, parecem não ter fim. Quem me dera poder compreender como o fazes. Tenho tentado cartografar a tua geografia na vã esperança de conhecer os vales da tua magia. Não estivesses tu em constante erosão, e poderia aspirar a consegui-lo. Mas hoje és rocha firme que suporta o peso do meu corpo, amanhã és areia fina que ri por entre os dedos dos meus pés. Num corropio constante, como se de um jogo de esconde-esconde se tratasse.
Não sei como é que me aguentas. A minha ansiedade, eloquência e revolta. Mas dás-te a beber de um só trago, dizes palavras que nunca escutei, mostras-me o outro lado da amurada. Quando muitas vezes és vinho que precisa de respirar, silêncio que tem de ser ouvido, quietude a ser celebrada. Talvez sejas apenas a projecção dos meus sonhos. O meu mundo perfeito espelhado na tela de um cinema. Mas mesmo quando acordo, e a luz do projector se apaga, continuo a sentir-te junto da minha pele. Por isso te trato como se existisses, e te continue a procurar, nos esboços e traços, de que é feita a minha vida...

1 comentário:

@ndrei@zul disse...

e por isso mesmo, de certo, encontrarás. gosto mesmo da tua prosa poética! obrigada! ;) baci*