segunda-feira, 12 de abril de 2010

Quarto crescente

Um destes dias sentei-me num terceiro andar com um grupo de pessoas. Formamos um quarto minguante com as nossas cadeiras e cruzamos os olhares habituais. Alguns mais íntimos, outros mais impessoais. Afinal de contas, era apenas a oitava vez que ali estavamos. Já tinhamos discutido muitas coisas, mas nunca tinhamos falado sobre quem somos. O desafio dessa noite era a descoberta das motivações para o voluntariado. Para aperitivo, porque não principiar por nos apresentarmos? Declinei ser eu o primeiro e encaminhei a atenção para a pessoa que se encontrava à minha frente.
Algo me disse que poderia haver palavras encantadas à solta. Não é todos os dias que a lava de um vulcão eclode. Pedi uma caneta e deixei-me estar à escuta como um qualquer predador. A minha presa nada mais era que a genuidade vinda do âmago de cada um. Nunca fui uma pessoa de tirar apontamentos, mas naquela sala, o espaço em branco da minha folha rapidamente se encheu de tinta azul.
A festa das palavras começou de uma forma muito calma mas atingiu picos de emoção completamente impensáveis. Sorri com os relatos dos mais tranquilos, arrepiei-me com a disponibilidade dos mais nervosos. Aquilo que era para ser um aperitivo passou rapidamente para prato principal. Sorvi todas aquelas palavras e não me escusei de libertar um "que bonito" quando uma certa frase preencheu toda aquela sala: "Eu sou muitas coisas caramba. Sou os meus pais, sou a minha escola primária, sou o Fernando Pessoa e sou o Ary dos Santos"
Calhou-me a mim a tarefa de terminar a meia lua. E foi na disposição das cadeiras que encontrei o que dizer sobre mim. Os meus olhos tinham lido erradamente a fase da lua. Afinal de contas não estavamos sentados em quarto minguante, mas sim em quarto crescente...e é em quarto crescente que nos encontramos sempre que damos voz a quem somos...

2 comentários:

nocas disse...

sabes o que te digo…”pipocas”

Anónimo disse...

Eu tou em quarto minguante. Já fui quarto crescente, lua nova e até tive o privilégio de ter sido 3vezes lua cheia. Depois disso nunca mais estive ás escuras.E o sol afinal que pensava, ser superior á lua....É que ela é feminina.
Eu