Chegaste à minha vida adornada em tons de antracite. Desses
três dias em que estivemos juntos, recordo ainda o teu vestido preto. Apesar da
invulgar beleza dos teus traços, odiei-te desde a primeira hora. Não te sei
dizer o que mais me repugnou, se o teu amargo interior ou se o fascínio que parecias
suscitar, em todos os demais. Acreditei que o facto de coincidirmos aqueles
dias em casa do meu irmão, se teria tratado apenas de um infeliz acaso. Nunca
pensei que a tão breve prazo te encontraria novamente.
Comecei a esbarrar contigo em todos os locais que frequento,
como se de repente tivesses decidido tomar a minha vida como tua. Não sei porque o
fizeste, mas aposto que nunca terias imaginado, que alguém um dia, te poderia
negar. Foram inúmeras as vozes que clamaram junto de mim em teu favor. Gabaram
a elegância dos teus movimentos, a subtileza dos teus perfumes. Como se fosses a
incarnação perfeita da espuma que baila no colo das ondas do mar. Particularmente enalteceram a riqueza das tuas múltiplas personalidades. A cor do teu vestido como o
reflexo do que és em cada momento. Toda uma explosão quando de azul-escuro, mais
delicada quando de vermelho. És a actriz que em palco representa aquilo que
cada um dos espectadores intimamente quer ver. És a mulher que passeia junto do actor de cinema mas que todos os dias aconchega um qualquer plebeu. A
plateia adora-te por isso. Por essa porção de glamour que trazes às suas vidas simples.
Hoje pergunto-me se algum de nós estaria preparado para a
tua chegada. Eu claramente que fui apanhado desprevenido. Ingenuamente
acreditei que serias apenas uma moda passageira e que um dia a vida voltaria ao
de antigamente. O quanto estava enganado. Para além de não desapareceres,
começaste a ser objecto de reproduções. O mundo tomou-te como referência e
foram muitas as que quiseram assemelhar-se contigo. Com os mesmos jeitos, os
mesmos equívocos. Mulheres fatais dispostas a tudo. Tenho dificuldades em
recordar bofetada semelhante, aquela que senti, quando conheci uma das
tuas pseudo-imitações. Não me atrevi sequer a censurá-la, pois ambos sabemos
que a culpada és tu e eu nunca te irei perdoar por isso. O mundo toma-te por uma coisa
que não és. Não me cansarei de gritar ao mundo que és um produto corrosivo...nunca
serás um café... odeio-te Nexpresso...
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