quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Professor Balança

Os legumes e frutas mais frescos chegam sempre com a manhã. Isto é tão verdade na cidade como no campo. Se numa encontramos prateleiras refrigeradas e arcas frigoríficas, na outra temos as gotas do orvalho e a colheita pela alvorada. Já aqui dei conta da minha preferência, mas infelizmente, o campo é demasiado longe da cidade. Nunca houve uma real aposta em rodovias destinadas a tractores e carroças, apesar, por exemplo, dos muitos burros que circulam nas estradas. A média de idades das pessoas que acorrem pela manhã ao supermercado a que vou ultrapassa largamente os 70 anos. Na grande maioria das vezes, o supermercado ainda nem abriu, e já por lá aguardam inúmeras rugas e artroses.  Estou em crer que a motivação principal para tão cedo despertar, será comum entre todos: a frescura das frutas e legumes. 

Numa destas manhãs fomos todos surpreendidos pela ausência do funcionário que se encarrega de pesar as frutas e legumes. Ao invés do dito funcionário, o supermercado disponibilizou uma balança toda moderna em que são os próprios clientes a tratar do assunto. Uma vez que os velhos apalpam as frutas e legumes muito mais do que eu, fui a primeira pessoa a chegar junto da balança. Não precisei de qualquer livro de instruções e de imediato comecei a pesar as muitas frutas e legumes que compunham o meu cesto. Apesar da minha agilidade de movimentos, num instante me vi rodeado por imensos velhotes. Os seus olhos, enquanto tentavam acompanhar os meus movimentos, traduziam o pânico da ignorância. Algumas vozes começaram a ouvir-se: “Ai que complicado!”; “Este moço é tão rápido.”; “Onde estará o funcionário?”.


Não sei se realmente precisaria de outras coisas, mas depois de ter pesado tudo o que tinha, facto é, que permaneci na secção das frutas e legumes. A confusão rapidamente estalou em torno da balança pois ninguém sabia como proceder. Aproximei-me tranquilamente do já numeroso grupo e disponibilizei-me a ajudar. Os sorridentes velhotes só desarmaram quando colei a última etiqueta num alho-francês. Pelo meio, o pico máximo da boa disposição quando lhes mostrei que o melão estava classificado como legume. Um dos velhotes apelidou-me de “Professor Balança”, nome esse que teve a concordância de todos. Amanhã preciso de ir novamente ao supermercado. Será que terei novos alunos? 

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