sexta-feira, 27 de março de 2009

Carta de amor

Gostaria de poder escrever-te uma carta de amor, mas sei que não consigo. Ja perdi a conta ao número de histórias de amor com que me cruzei ao longo do tempo. Na forma de livros, canções e películas. Sensações desconcertantes de tão intensas que são. Pérolas de uma beleza tão particular, que ainda hoje recordo o brilho de cada um delas. Daria tudo pelo talento de um ourives. Para poder fazer um colar com estas pérolas. Um colar de palavras. Uma carta de amor.
Sei que não tenho tal engenho. A minha irreverência obriga-me no entanto a tentar. Abri um tinto que me deram nos anos e espalhei velas coloridas pela sala. Dei uma passa num cigarro que estava perdido cá em casa e fiquei a ver o fumo a tomar o seu caminho. Criei o ambiente perfeito, mas não houve forma de as palavras darem sinal de vida. E eu queria tanto conseguir escrever-te palavras bonitas.
Não me lembro de adormecer. Sei que acordei contigo apesar não termos dormido juntos. O despertador do meu vizinho do lado tocou era ainda de madrugada. Abri os olhos e vi que ainda existia vida em alguns dos pavios. As ondas da rádio da casa ao lado chegaram até à minha morada. Algo se passou em mim. Quando voltei a mim tinha acabado de escrever um parágrafo inteiro na toalha de mesa. Li o que tinha escrito e esbocei um sorriso.

"Quão fundo estás em mim. Tu és onda de rádio. Estás sempre no horizonte. A tua presença é arrebatadora. Mesmo que eu não quisesse ter-te sintonizada, tu lá estás. Ouço-te no fim do mundo. Onde apenas existe um pouco de céu. Onde nem os sonhos tem asas de liberdade. Onde apenas as lágrimas têm futuro. Sinto-te tanto. És a minha companhia. És força. Existes para além de tudo. E provas que também existo."

1 comentário:

Anónimo disse...

Nunca recebi uma carta de amor, melhor dito, nunca recebi uma carta de amor correspondido.
E ainda ontem me dei conta de há quanto tempo não escrevo. Não falo de juntar palavras num resultado harmonioso, que isso faço-o todos os dias. Falo sim de escrever. Sentimentos, emoções, pedaços de mim… Mas lembro-me da última vez que escrevi para alguém, lembro-me de pensar que nada tinha a dizer e enganar-me. Lembro-me de encher o ecrã branco com milhares de caracteres, com a facilidade que caracteriza o desespero de um turbilhão de sentimentos. Também eu gostaria de escrever uma carta de amor. Enquanto o meu “te” é ainda um “?” escrevo para ti. Afinal, dizem que o que temos é uma das mais puras formas de amor.