quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Terminal 2

A minha vida não cabe nestes textos que por aqui escrevo. Tento mostrar-me ao mundo por entre palavras aprumadas e frases a preceito, mas, tudo aquilo que escrevo, é apenas uma ténue imagem de quem sou. Aquilo que eu gostaria de partilhar, sentir-se-ia demasiado abafado nos meus parcos recursos de língua portuguesa. Nunca conseguiria decantar aqui todos os sucos que jorro a cada dia. Talvez a gramagem do filtro da censura interior seja demasiado elevada. Ou então, talvez existam sensações, que apenas eu consiga absorver. A tentativa de as reproduzir é por isso, apenas um exercício de recreio, não havendo qualquer esperança objectiva que alguém as consiga verdadeiramente interiorizar.
Esta manhã quando me aproximava do aeroporto o taxista perguntou com voz de madrugada: “T1?”. Eu respondi com energia moderada: “T2”. Há medida que o carro procurava lugar para travar definitivamente, dei por mim a estranhar o pouquíssimo alarido em volta do terminal. As minhas suspeitas aumentaram quando o taxista diz “acho que é aqui”. Acertei as contas com o sujeito, passei as portas automáticas e encarei o monitor das partidas. O meu voo não se encontrava lá. Fui ver o que estava escrito no comprovativo do bilhete electrónico e não havia qualquer margem para dúvidas: T1. Sei perfeitamente o que me conduziu ao T2. Pareceu-me ouvir os altifalantes daquele terminal anunciar: Ladies and gentlemens João is back. Fiz uma pequena vénia aquelas paredes e dei caminho aos meus passos.
Já estive em muitos terminais de aeroporto. Poderia contar as vivências de todos eles com excepção do T2. A sua história nunca caberia aqui. Afinal de contas, é de vida que falo...Revi-me enquanto João, agora que sou Bulak. O mesmo pulsar nervoso e inquieto, mas um sangue muito mais fluído e preenchido...ou não fosse o mundo capaz de nos moldar...e de podermos ser felizes...

3 comentários:

tsiwari disse...

Textos interessantes.

Parabéns, João. Ou Bulak... onde fores mais feliz!


:)

nocas disse...

Em casa passam ja algumas horas do dia seguinte, mas aqui continuo no mesmo. Será que voei contra o tempo?

Anónimo disse...

...e voltaste a ser felix. Quando o inconsciente te levou ao T2, mesmo só recordando. Não é a felicidade pequenos momentos?