sábado, 5 de julho de 2014

Ainda que o carvão acabe



A minha empresa está prestes a entrar no seu quinto dia de existência. Estes quatro primeiros dias foram muito intensos, e por isso, nada melhor que o fim-de-semana para recuperar as energias.  Na verdade, apesar da sua precocidade, a empresa já começa a mostrar alguns sinais de desgaste. É que não é muito fácil ser uma empresa. Felizmente que o dicionário nos oferece alternativas linguísticas à palavra empresa. O cometimento ousado Sou EU. Acumulo por isso os cargos de Presidente, Director Financeiro, Director de Marketing, Director de Vendas e ainda, de Trabalhador. Numa lógica Lusa, parece-me que a empresa está bastante equilibrada no que diz respeito à proporção de cargos directivos. Até ao momento estou bastante satisfeito com a performance de todos os departamentos, mas começo a sentir, que mais dia menos dia, precisarei de um Director de Recursos Humanos. Director, pelo que está descrito em cima é algo que naturalmente aprecio. Humanos, pela falta comprovada de Marcianos, continuam a ser os meus seres vivos favoritos. Agora, Recursos, detesto.

Em termos da sua origem, não há dúvida que somos um recurso da biosfera. Ainda que o carvão acabe, poderemos assim, quem sabe um dia, continuar a nossa existência, a olhar para uma grelha de sardinhas. Mas numa perspectiva obviamente diferente: de baixo para cima. Será isto aquilo de apelidam de vida eterna? Humm, talvez seja melhor não ir por aí… . A taxa de natalidade actual coloca também algumas interrogações sobre se nos poderemos efectivamente considerar como recursos renováveis. Pelo caminho há sempre algumas recauchutagens que podem ser feitas (zumba, silicone, Professor Karamba...). Umas são mais impactantes que outras, mas em termos de renovação propriamente dita, acho difícil. E depois há a própria questão de gestão inerente ao recurso. Como é que funciona? Da mesma forma como o chefe do meu cunhado que lhe dá instruções para ir ver o que se passa com a torre 12 do parque eólico X, o mesmo se passaria se fosse um Recurso Humano avariado? Na verdade até pode ser que as coisas se passem mesmo assim, e eu terei por isso demorado 34 anos a perceber o significado da expressão, “tens um parafuso a menos”.

Não é de estranhar que o meu cometimento ousado esteja um pouco relutante na contratação de um Director de Recursos Humanos. A empresa é demasiado humanista para permitir que os seus colaboradores sejam geridos como um outro qualquer recurso. Se não houver pinhas ou cavacos disponíveis, toca a meter acendalhas e carvão? As coisas não podem ser feitas assim porque as sardinhas ficam com o cheiro da combustão. A electricidade foi-se abaixo, o cilindro só aguentará um duche, e por isso só um é que se lava? A minha mãe em pequenos dava-nos banho aos três e ainda hoje em dia, tomo muitos duches a dois (mas não com os mesmos). O ouro está pelos olhos da cara e por isso esquece lá as alianças? Aonde é que já se viu, andar depois de casados com os dedos a nu?!

Os Humanos são de tal forma únicos que dificilmente algum dia se conseguirão fazer versões melhoradas com qualidade suficientemente decente, que valha a pena abrir os cordões à bolsa e trazer um para casa. O problema está é na forma de os gerir. Eu na verdade, a iniciar o quinto dia da empresa Sou Eu, já estou efectivamente por tudo e preciso mesmo de ter alguém para administrar os Humanos. Mas quem é que poderá ser? Olha que se lixe, afinal de contas são só Humanos: 

Comunicado: Orgãos Sociais para o próximo milénio do cometimento ousado Sou Eu
João Ferreira – Presidente, Director Financeiro, Director de Marketing, Director de Vendas, Trabalhador e Director de Recursos Humanos.

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