A minha empresa está prestes a entrar no seu quinto dia de
existência. Estes quatro primeiros dias foram muito intensos, e por isso, nada
melhor que o fim-de-semana para recuperar as energias. Na verdade, apesar da sua precocidade, a
empresa já começa a mostrar alguns sinais de desgaste. É que não é muito fácil
ser uma empresa. Felizmente que o dicionário nos oferece alternativas
linguísticas à palavra empresa. O cometimento
ousado Sou EU. Acumulo por isso os cargos de Presidente, Director
Financeiro, Director de Marketing, Director de Vendas e ainda, de Trabalhador.
Numa lógica Lusa, parece-me que a empresa está bastante equilibrada no que diz
respeito à proporção de cargos directivos. Até ao momento estou bastante satisfeito
com a performance de todos os departamentos, mas começo a sentir, que mais dia
menos dia, precisarei de um Director de Recursos Humanos. Director, pelo que está descrito em cima é algo que naturalmente
aprecio. Humanos, pela falta
comprovada de Marcianos, continuam a ser os meus seres vivos favoritos. Agora, Recursos, detesto.
Em termos da sua origem, não há dúvida que somos um recurso
da biosfera. Ainda que o carvão acabe, poderemos assim, quem sabe um dia, continuar
a nossa existência, a olhar para uma grelha de sardinhas. Mas numa perspectiva
obviamente diferente: de baixo para cima. Será isto aquilo de apelidam de vida eterna? Humm, talvez seja melhor
não ir por aí… . A taxa de natalidade actual coloca também algumas
interrogações sobre se nos poderemos efectivamente considerar como recursos
renováveis. Pelo caminho há sempre algumas recauchutagens que podem ser feitas
(zumba, silicone, Professor Karamba...). Umas são mais impactantes
que outras, mas em termos de renovação propriamente dita, acho difícil. E
depois há a própria questão de gestão inerente ao recurso. Como é que funciona?
Da mesma forma como o chefe do meu cunhado que lhe dá instruções para ir ver o
que se passa com a torre 12 do parque eólico X, o mesmo se passaria se fosse um
Recurso Humano avariado? Na verdade até pode ser que as coisas se passem mesmo
assim, e eu terei por isso demorado 34 anos a perceber o significado da expressão,
“tens um parafuso a menos”.
Não é de estranhar que o meu cometimento ousado esteja um
pouco relutante na contratação de um Director de Recursos Humanos. A empresa é
demasiado humanista para permitir que os seus colaboradores sejam geridos como
um outro qualquer recurso. Se não houver pinhas ou cavacos disponíveis, toca a
meter acendalhas e carvão? As coisas não podem ser feitas assim porque as
sardinhas ficam com o cheiro da combustão. A electricidade foi-se abaixo, o cilindro
só aguentará um duche, e por isso só um é que se lava? A minha mãe em pequenos
dava-nos banho aos três e ainda hoje em dia, tomo muitos duches a dois (mas não
com os mesmos). O ouro está pelos olhos da cara e por isso esquece lá as
alianças? Aonde é que já se viu, andar depois de casados com os dedos a nu?!
Os Humanos são de tal forma únicos que dificilmente algum
dia se conseguirão fazer versões melhoradas com qualidade suficientemente decente, que
valha a pena abrir os cordões à bolsa e trazer um para casa. O problema está é na forma de os gerir. Eu
na verdade, a iniciar o quinto dia da empresa Sou Eu, já estou efectivamente
por tudo e preciso mesmo de ter alguém para administrar os Humanos. Mas quem é
que poderá ser? Olha que se lixe, afinal de contas são só Humanos:
Comunicado: Orgãos Sociais para o próximo milénio do
cometimento ousado Sou Eu
João Ferreira – Presidente, Director Financeiro, Director de
Marketing, Director de Vendas, Trabalhador e Director de Recursos
Humanos.
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