A maior vantagem de uma cidade pequena é sem dúvida alguma a
sua própria dimensão.Tudo está próximo independentemente de quão na periferia
da cidade possamos estar. O hospital, o mercado, o banco, a antiga professora
de química, aquela jeitosa por quem suspirávamos na catequese... ! Após o jantar de ontem decidi fazer uma
caminhada pela cidade. Verão e Passeio, mesmo numa cidade onde a fria nortada é
a autoridade em funções, pedem calções e sapatilhas. Optei por fazer um pequeno
desvio na rota habitual para ver a remodelação do Cine-Teatro Garrett, que após
inúmeros anos encerrado, abriu novamente as portas aos aplausos do público.
Assim que me encontrei diante do edifício uma cara amiga deu-me conta, que dali a
uma hora, se realizaria mais um concerto do Festival de Música. Comprei o
bilhete de imediato e nem me dei ao trabalho de ver o programa para aquela noite. Vários anos a assistir
a tal ciclo de concertos eram a garantia suficiente que teria uma bela noite de
música clássica.
Ainda tinha imenso tempo até ao concerto e continuei por isso o meu passeio.
Chegado a uma grande praça junto à praia encontrei uma multidão de gente. Centenas
de pessoas com trajes de ginásio seguiam os ágeis movimentos de um rapaz que se
encontrava em cima de um palco. A coreografia e a música não deixavam margem
para dúvidas: zumba. Assisti divertido ao
empenho e alegria de toda aquela gente, mas a minha opinião sobre a zumba
permaneceu igual: sem caneca não é zumba. Após uma breve pausa no Café de
sempre, regressei ao Cine-Teatro. Na subida vertiginosa para tentar assegurar
um lugar na primeira fila do primeiro balcão, apercebi-me de 3 coisas: muitas
gravatas, ex-ministros, demasiados degraus. Estes últimos explicam-se pelo
facto de já não existir o antigo primeiro balcão. As gravatas e o ex-ministros
talvez se expliquem com o que passado alguns minutos se anunciou: “La Spinalba ovvero Il vecchio matto – Ópera cómica
em 3 actos”.
O público estava todo devidamente aperaltado para a ópera
que iria principiar no Garrett. Calções e sapatilhas eram mais apropriados para a zumba que se exercitava na praça. Imagino que a professora de
química e a jeitosa da catequese, sentadas duas filas à minha frente, pensariam
o mesmo. O sentimento de vergonha desapareceu assim que o cravo e o violoncelo
começaram a afinar os restantes instrumentos. Não sei se terão sido as minhas
pernas nuas ou as sapatilhas, mas facto é, que apesar de existirem inúmeras
pessoas conhecidas, durante o intervalo, não tive qualquer encontro imediato. A ópera terminou sob uma chuva de aplausos. Inesperadamente, na rua também chovia...não esperei para ver como fariam com as saias travadas...
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