quinta-feira, 10 de julho de 2014

Alma de esquerda a circular pela direita

Um dia, algures no Sul do Laos, aluguei uma mota. Percebi que andava muito bem para a frente e para trás, mas que me era impossível andar de um lado para o outro. Na verdade até era possível, pois bastava-me empregar a técnica que utilizava quando desejava andar para trás: parar a mota, sair da mota, virar a mota para trás, entrar na mota, conduzir para a frente. Motorizadamente falando, não me consigo inclinar nem para a direita nem para a esquerda, o que na prática significa, que não sei curvar. Rapidamente compreendi que a minha técnica de fazer as curvas dificilmente me faria chegar longe. A resolução para esta situação surgiu rapidamente: oito minutos após o aluguer da mota, aluguei um condutor para a mota. Os automovéis, ao contrário das motas, não obrigam a qualquer inclinação por parte do condutor. Uma vez que este facto não é do conhecimento geral  e que este blog tem poucos seguidores, poderemos continuar alegremente a visualizar, não raras as vezes, aquando de uma subida de um automóvel, o respectivo condutor inclinado para a frente.

Apesar das enormes tolices que reconheço que fiz enquanto recém encartado, creio que nunca me terei inclinado para a frente. Os tempos de grumete ao volante já lá vão, e apesar  de poder estar errado, creio que hoje em dia, sou um condutor bastante fiável. Esta era a minha convicção até há semana passada. Apesar de não ter acidentes de viação a registar, sinto-me desde então, um pior condutor. Admito que algo de inexplicável possa ter ocorrido dentro de mim, mas no imediato, tenho de atribuir as culpas ao Renault Twingo. Eu e este carro somos amantes ocasionais há muito tempo, mas agora que aumentamos a frequência dos encontros, as coisas parecem começar a azedar. Até há semana passada, os nossos encontros foram sempre marcados pela presença da proprietária do carro. Tal como dois namorados na presença da mãe, os encontros até então, foram bastante moderados em termos de manobras. O problema é que agora o Renault Twingo exige demasiado de mim. O tipo de carro a que estava habituado fazia tudo por mim: regulava o ar condicionado, accionava o limpa pára-brisas, acendias os faróis... . Eu apenas tinha que desfrutar da companhia do automóvel. Se de uma amante se tratasse, era a mulher-a-dias perfeita. O Renault Twingo é uma verdadeira dondoca.


O que mais me fere é estar agora limitado a circular pelo lado direito da faixa de rodagem. Alma de esquerda a circular pela direita. Não existe castigo maior para um condutor. Creio que não conseguirei suportar esta situação por muito mais tempo. Em algum momento terei de terminar esta relação. Era suposto uma amante fazer-me sentir bem, mas sinto-me cada vez pior. Mas talvez seja melhor aguentar, pois o autocarro da rua é a serventia da casa... . Regulo o ar condicionado, acciono o limpa pára-brisas, acendo os faróis... qualquer dia estou a inclinar-me para a frente...

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