Um dia, algures no Sul do Laos, aluguei uma mota. Percebi
que andava muito bem para a frente e para trás, mas que me era impossível andar
de um lado para o outro. Na verdade até era possível, pois bastava-me empregar
a técnica que utilizava quando desejava
andar para trás: parar a mota, sair da mota, virar a mota para trás, entrar na
mota, conduzir para a frente. Motorizadamente falando, não me consigo inclinar
nem para a direita nem para a esquerda, o que na prática significa, que não sei
curvar. Rapidamente compreendi que a minha técnica de fazer as curvas dificilmente
me faria chegar longe. A resolução para esta situação surgiu rapidamente: oito
minutos após o aluguer da mota, aluguei um condutor para a mota. Os automovéis,
ao contrário das motas, não obrigam a qualquer inclinação por parte do
condutor. Uma vez que este facto não é do conhecimento geral e que este blog tem poucos seguidores, poderemos
continuar alegremente a visualizar, não raras as vezes, aquando de uma subida de um automóvel, o
respectivo condutor inclinado para a frente.
Apesar das enormes tolices que reconheço que fiz enquanto recém
encartado, creio que nunca me terei inclinado para a frente. Os tempos de
grumete ao volante já lá vão, e apesar
de poder estar errado, creio que hoje em dia, sou um condutor bastante
fiável. Esta era a minha convicção até há semana passada. Apesar de não ter acidentes de viação a
registar, sinto-me desde então, um pior condutor. Admito que algo de
inexplicável possa ter ocorrido dentro de mim, mas no imediato, tenho de
atribuir as culpas ao Renault Twingo. Eu e este carro somos amantes ocasionais
há muito tempo, mas agora que aumentamos a frequência dos encontros, as coisas
parecem começar a azedar. Até há semana passada, os nossos encontros foram
sempre marcados pela presença da proprietária do carro. Tal como dois namorados na presença
da mãe, os encontros até então, foram bastante moderados em termos de manobras. O problema é que agora o Renault Twingo exige demasiado de mim. O tipo de carro a que estava habituado fazia tudo por mim: regulava o ar condicionado, accionava o
limpa pára-brisas, acendias os faróis... . Eu apenas tinha que desfrutar da
companhia do automóvel. Se de uma amante se tratasse, era a mulher-a-dias
perfeita. O Renault Twingo é uma verdadeira dondoca.
O que mais me fere é estar agora limitado a circular pelo
lado direito da faixa de rodagem. Alma de esquerda a circular pela direita. Não existe
castigo maior para um condutor. Creio que não conseguirei suportar esta
situação por muito mais tempo. Em algum momento terei de terminar esta relação.
Era suposto uma amante fazer-me sentir bem, mas sinto-me cada vez pior. Mas
talvez seja melhor aguentar, pois o autocarro da rua é a serventia da casa... .
Regulo o ar condicionado, acciono o limpa pára-brisas, acendo os faróis...
qualquer dia estou a inclinar-me para a frente...
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