As torradas da Biblioteca da Póvoa de Varzim em bom rigor
não poderão ser consideradas como
verdadeiras torradas. Sim senhor são compostas exclusivamente por pão, confirmo
a utilização da torradeira e garanto o clássico sabor a manteiga. O problema é
temporal: o pão utilizado nessas torradas, é o do próprio dia. E este facto tem
obviamente um impacto determinante no resultado final. Conhaque é conhaque,
champanhe é champanhe. As melhores rabanadas são as do dia seguinte à fritura e
o peixe para a grelha só mesmo o apanhado naquele dia. Muitos mais exemplos
poderia apresentar que validam a importância da questão temporal. Fica por isso
claro que não se trata de uma embirração da minha parte para com as supostas
torradas da Biblioteca da Póvoa de Varzim. Os idos tempos de estudante há muito
já lá vão. E boa verdade não me recordo da
última vez que terei entrado em tal espaço municipal. Apesar de lembrar as torradas
do modo que descrevi, admito que entretanto possam ter havido melhorias a nível
da cafetaria. Nem que mais não seja, para podermos chamar as coisas pelos nomes
correctos.
A minha semana laboral tem lugar na Biblioteca de Oeiras
onde não existe qualquer cafetaria. Duas máquinas de snacks e uma máquina de
café, asseguram as necessidades humanas fundamentais a quem lá anda. Estão
igualmente disponíveis duas casas de banho para a concretização de outras
necessidades básicas. Curiosamente, e abro aqui um parênteses, as máquinas de alimentação, encontram-se localizadas
a menos de quatro metros das portas dos WC. A justificação para tal proximidade
parece-me óbvia: uma coisa pode levar à outra ( independentemente de qual a
primeira). O que aqui efectivamente me
interessa relatar diz respeito a outra necessidade fundamental: o sono. A
satisfação desta necessidade básica é a verdadeira missão de qualquer biblioteca.
A Biblioteca de Oeiras, neste capítulo, é um modelo de excelência a copiar.
Como se já não bastasse o silêncio aterrador da pesada literatura e os gélidos olhares das
bibliotecárias perante o mínimo espirro, a Biblioteca de Oeiras, para além de
mesas e cadeiras, disponibiliza pufes para as pessoas estirarem. Mais uma vez,
também a localização dos pufes, foi estrategicamente pensada: nos tranquilos corredores
que existem entre as diversas estantes de livros. Os pufes são por isso
altamente procurados por quem necessita de satisfazer uma das suas necessidades
básicas.
Uma desgraça poderá estar por isso prestes a acontecer. Na verdade, prestes a fazer-se ouvir. A associação, da malemolência própria do pufe, com a qualidade dos géneros alimentares daquelas máquinas, certamente resultará, num muito pouco mudo, processo digestivo. A vergonha desta sonoridade poderá justificar uma descarada mentira. Afinal de contas, qualquer pessoa que já tenha experimentado um pufe, tem noção da música que este sugere a cada movimento nosso. Seria por isso muito fácil, sugerir que a trovoada intestinal, não fosse mais do que um acorde musical do pufe. O problema é que eu estarei por perto... e se não deixo passar as supostas torradas, certamente que não será necessário um relâmpago para comprovar o fenómeno da trovoada...
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