quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A dimensão da tragédia

A dignidade da morte anda por aí. Abre telejornais, assina artigos de opinião e ocupa a boca de alguns comentadores. Seja lá para onde for que a gente se vire, ali está ela pronta a dizer-nos de sua justiça, o que se passa no Haiti. Corpos tratados como lixo e que muito emocionam os espectadores, os leitores e os ouvintes. Eu não fico indiferente a uma tragédia desta dimensão. Mas se a discussão é feita apenas sobre matéria, vou então falar do meu corpo. Quando eu morrer pouco me importa o que possa acontecer ao meu corpo. Se enterrado numa lixeira, se queimado com o desportivo do dia anterior, se retalhado numa aula de anatomia. Lançado aos tigres do jardim zoológico ou desfeito numa fábrica de sabonetes. Apenas sei que não quero que se faça qualquer memorial físico.
Portugal tem no Haiti pelo um menos um par de jornalistas de cada estação de televisão. Se o mesmo se passar com todos os outros países desenvolvidos, estaremos a falar de quantos jornalistas no teatro das operações? O mundo precisa de saber o que está a acontecer no Haiti. Serão estes relatos que potenciam a solidariedade que há dentro de nós? Sim, creio é um factor muito importante. O mundo ficou chocado com o que viu. Mas daqui a umas semanas já ninguém se irá lembrar. Será que este contingente noticioso irá lá estar daqui a um ano? E daqui a cinco ou dez anos?
Nunca interessa falar da dignidade da vida! O Haiti era dos países mais pobres do mundo. Alguém sabia disso? Não, claro que não. Isso nem é notícia. Não vende jornais e não aumenta o share de audiências. Nas minhas viagens por países pobres, sempre me perguntei, como certas coisas que vi, não eram notícia todos os dias.
A dimensão da tragédia não está no número de mortos. Está no número de vivos tratados como mortos. Se calhar eu é que sou burro, ou como um grande amigo meu me disse:"Desde que foste para a Tailândia que tens a mania" ... eu não fui à Tailândia...

6 comentários:

"Elizabeth Swann" disse...

hoje esse teu amigo que fez o comentario sobre a tailandia saiu-te na rifa, nao? é a segunda vez que "ouço" falar dele :p

Unknown disse...

I still can't understand why you don't admit you were in Tailand...

Nome de bicho disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Nome de bicho disse...

Ora bem...

Essa história da tailandia está muito enevoada na minha cabeça... mas fico contente de saber que andam a falar de mim... ainda por cima duas vezes...

Queria apenas fazer uma correcção querida "Elizabeth"... eu não saí ao João na rifa... eu e ele fomos as duas rifas que sobraram no bloco... ;)

"Elizabeth Swann" disse...

As duas rifas que sobraram do bloco? hum...isso soa-me um bocado aos últimos "espécimes masculinos" à face da terra!... :p

Anónimo disse...

Não há duvida o Mundo anda á volta do pormenor. Qual mortos, qual vivos, o que interessa é o local onde foi.Assim até podemos dizer:. "já lá estive de férias" e que importantes que nós somos. A quantos mortos vivos (drogados) damos um "bom dia"? Perdemos "audiência" se contarmos.
EU. TÁ TUDO?