segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Um dia em forma de horóscopo

Enquanto as batatas terminavam e os grelos eram salteados tenho a seguinte conversa:

“Pode ser que a entrevista seja já esta semana”
“O teu horóscopo de hoje fala disso”
“Ai é? E então?”
“Diz que vai haver mudanças em termos profissionais”
“E no amor, como é que está?”
“Só lá para dia 13”

Um jornal de hoje reza assim “Não comece nenhum tipo de relacionamento neste período. Espere até ao dia 13. Carreira em alta com algumas mudanças positivas previstas”. Como eu nunca soube o que a palavra carreira realmente significa, fico-me apenas pela primeira parte do horóscopo. Com que então tenho que esperar até dia 13 para começar um novo relacionamento. Já estou super entusiasmado com esta possibilidade e mal posso esperar pelo dia de amanhã, pois assim Sábado ficará ainda mais próximo. As minhas expectativas são já um balão de ar quente a roçar o telhado da atmosfera. O que é que me esperará? E como é que devo lidar com isto? Afinal de contas, como deveremos nós lidar com as expectativas?
Sento-me no Chiado e observo duas expectativas. A primeira em forma de mulher. Vestida com um fato de corte clássico. Cabelo apanhado e unha feita. Tem uma passada vigorosa e repleta de confiança, apesar dos dossiers e do computador que carrega. Hoje saberá se irá ser promovida. Para além do prestígio e orgulho, um cheque mais gordo no final de cada mês. A segunda expectativa é em forma de homem. Como roupa, umas calças largas e uma camisola de carapuço. Tem rastas e unhas sujas. Toca rock& roll na guitarra e faz o compasso com o pé esquerdo. Hoje constatará se gostam da sua música. Para além do reconhecimento e estímulo, uns trocos para o jantar do dia.
Gerir uma expectativa é talvez a batalha entre o valor que nós próprios atribuímos a uma coisa e a importância real dessa mesma coisa. Esta é no entanto uma luta desigual. O valor que nós próprios damos a determinada coisa, é muito mais forte e condicionante (ver certas realidades do mundo equilibra esta balança para o lado da importância real....tenho de escrever isto em letra pequena para não me acusarem de bater no ceguinho) . A mulher talvez não recupere se não for promovida. O homem continuará a sobreviver mesmo que a caixa da guitarra não some cinco euros. Ela talvez meta férias para reflectir. Ele continuará a ir para a rua tocar.
Um jantar que saiu queimado. Há quem faça um drama muito grande. Há quem diga que é apenas mais uma refeição.
Dia 13 poderei começar uma relação. Poderá ser a mulher da minha vida. Poderá ser mais um caso forte a mais. Ou afinal de contas, poderá não ser nada disso. Apenas mais um dia em forma de horóscopo...

2 comentários:

nocas disse...

O horóscopo era da Maya ou do JoãoBidu? É que isso faz toda a diferença...

Anónimo disse...

Não negues uma "ciência" que desconheces. A memória é curta já te esqueceste o que o horóscopo dizia quando pediste a liçença? Só que na altura não te deu para o gozo. Antes conheceres uma Maya do que um João Bidu, faria toda a diferença.
EU