quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Desculpem, mas não temos açucar mascavado.

Poucos programas me cativam tanto como uma casa cheia de gente. Almoços que se prolongam por lanches e que merecem uma breve ceia de aconchego ao jantar. As pessoas como o prato principal de qualquer serão. Loucos são aqueles que ignoram semelhante iguaria. Receber pessoas em casa é para mim um verdadeiro privilégio. Optar pela minha casa é recusar o parque infantil de mil aventuras possíveis que é o mundo. Como poderia não dedicar-me a quem optou pela minha casa? Sou um anfitrião cuidadoso e atento. Principalmente humilde, porque apesar da fortuna de uma funda, sei bem o quão difícil é reunir os nossos afectos, quando esse Golias mundo ronda a todo o instante.

Existe a crença que o melhor das viagens é na verdade o regresso a casa. Não significa que a viagem em si, seja a constante tomada de consciência desse facto. Se assim o fosse, seria certamente um desperdício de tempo. Eu sou um sortudo pelos inúmeros regressos que realizei. Por alguma razão, e já o referi neste blog, a minha casa poderia ser o átrio das chegadas de um aeroporto. É o meu local preferido do mundo e apenas teria de arranjar um forma de, também aí, receber quem mais gosto. Vejo cada regresso como algo mágico e especial. Pouca importa a distância ou natureza da viagem.


No passado fim-de-semana fomos para fora. O tempo não ajudou, mas a melhor sericaia da década foi raio de sol por entre nuvens cinzentas. As praias mais selvagens do que nunca, um percurso pedestre para o futuro e a alegria ao encontrar um determinado pacote de açúcar. Inúmeras nacionalidades a trabalhar nas estufas; a curiosidade da vida dentro de uma autocaravana; uma gata branca a querer vir para Lisboa. O Alentejo fica para trás, é tempo de regressar a casa.

Chegado ao quarto, uma grande surpresa: um batalhão de formigas deambulava despreocupadamente pelo soalho. A origem do carreiro parecia estar debaixo do rodapé imediatamente colado ao armário dos sapatos, mas quanto ao destino das formigas, todo um mistério. Não tenho por hábito pisar muitos rebuçados (a dieta canina não os inclui) e por isso, não consigo compreender o que levou as formigas a aparecer naquele local. Mas isso também não é relevante e o que importa aqui realçar é a espontaneidade do gesto.

Naturalmente que lhes cederia de bom grado a casa para o fim-de-semana, mas enquanto bom anfitrião, gostaria de pelo menos ter deixado uma nota de boas-vindas:

Experimentem o mel de rosmaninho que está na segunda prateleira. Deixamos umas migalhas de croissants para vocês na carpete da sala. Sintam-se à vontade para acabar com as amêndoas caramelizadas. As bolachas de alfarroba estão uma categoria. Desculpem, mas só temos açúcar mascavado L
PS: Se precisarem de utilizar a internet, a password é “raid rastejantes”.



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