Poucos programas me cativam tanto como uma casa cheia de
gente. Almoços que se prolongam por lanches e que merecem uma breve ceia de
aconchego ao jantar. As pessoas como o prato principal de qualquer serão. Loucos
são aqueles que ignoram semelhante iguaria. Receber pessoas em casa é para mim
um verdadeiro privilégio. Optar pela minha casa é recusar o parque infantil de
mil aventuras possíveis que é o mundo. Como poderia não dedicar-me a quem optou
pela minha casa? Sou um anfitrião cuidadoso e atento. Principalmente humilde,
porque apesar da fortuna de uma funda, sei bem o quão difícil é reunir os
nossos afectos, quando esse Golias mundo ronda a todo o instante.
Existe a crença que o melhor das viagens é na verdade o
regresso a casa. Não significa que a viagem em si, seja a constante tomada de
consciência desse facto. Se assim o fosse, seria certamente um desperdício de
tempo. Eu sou um sortudo pelos inúmeros regressos que realizei. Por alguma
razão, e já o referi neste blog, a minha casa poderia ser o átrio das chegadas
de um aeroporto. É o meu local preferido do mundo e apenas teria de arranjar um
forma de, também aí, receber quem mais gosto. Vejo cada regresso como algo
mágico e especial. Pouca importa a distância ou natureza da viagem.
No passado fim-de-semana fomos para fora. O tempo não ajudou, mas a melhor sericaia da década foi raio de sol por entre nuvens cinzentas. As praias mais selvagens do que nunca, um percurso pedestre para o futuro e a alegria ao encontrar um determinado pacote de açúcar. Inúmeras nacionalidades a trabalhar nas estufas; a curiosidade da vida dentro de uma autocaravana; uma gata branca a querer vir para Lisboa. O Alentejo fica para trás, é tempo de regressar a casa.
Chegado ao quarto, uma grande surpresa: um batalhão de
formigas deambulava despreocupadamente pelo soalho. A origem do carreiro
parecia estar debaixo do rodapé imediatamente colado ao armário dos sapatos,
mas quanto ao destino das formigas, todo um mistério. Não tenho por hábito pisar muitos
rebuçados (a dieta canina não os inclui) e por isso, não consigo compreender o
que levou as formigas a aparecer naquele local. Mas isso também não é relevante
e o que importa aqui realçar é a espontaneidade do gesto.
Naturalmente que lhes cederia de bom grado a casa para o
fim-de-semana, mas enquanto bom anfitrião, gostaria de pelo menos ter deixado uma
nota de boas-vindas:
Experimentem o mel de rosmaninho que está na segunda
prateleira. Deixamos umas migalhas de croissants
para vocês na carpete da sala. Sintam-se à vontade para acabar com as amêndoas
caramelizadas. As bolachas de alfarroba estão uma categoria. Desculpem, mas só
temos açúcar mascavado L
PS: Se precisarem de utilizar a internet, a password é “raid
rastejantes”.
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