quarta-feira, 12 de maio de 2010

Duas caixas

A caixa de entrada do meu telemóvel encontra-se neste preciso momento com 168 mensagens. A mais antiga data de 26 de Abril de 2010. Certamente que desde esse dia muitas terão sido as mensagens recebidas que foram apagadas de imediato. O número de mensagens actual na caixa de entrada não reflecte por isso, o total de mensagens recebidas nos últimos 17 dias. Os conteúdos das mesmas são extremamente variados: bolas de queijo flamengo, resultado do Barcelona-Inter, alteração de planos de última hora, confirmação de carregamento, convites para tomar café...
Junto à janela do meu quarto tenho uma caixa. Não me recordo da última vez que a abri. Está simplesmente sentada no soalho como outra qualquer peça do mobiliário. Servindo por vezes até, como depositário de uma peça de roupa usada. Dentro dessa caixa acumulam-se muitas coisas distintas. Mas de todos os objectos que lá podemos encontrar há uns em especial que se destacam em termos de presença: cartas. De amigo, de amor. Escritas a tinta verde ou sem o carimbo dos correios. Em língua estrangeira ou com corações desenhados. Salpicadas de café ou com palavras que requerem hífen.
As sms são cada vez mais o veículo número um de comunicação da palavra escrita. A minha caixa do correio hoje em dia alimenta-se a folhetos de publicidade, contas para pagar e actas das reuniões do condomínio. A meu ver, uma dieta demasiado pobre. Mas são estas as recomendações dos nutricionistas de hoje em dia. Meia dúzia de sms diários e fica cumprida a pirâmide de alimentos.
Acabei de eliminar as 168 mensagens que tinha. É algo que faço com relativa frequência. Existe sempre uma ligeira hesitação inicial, mas nunca o deixo de fazer. Não me posso prender às mesmas, por mais alegria que elas me tenham dado. Sei que raramente voltaria a elas. Assim como raramente volto à minha torre do tombo. Apesar de tudo esta caixa acompanha-me sempre, pois afinal de contas é lá que vivem tantas palavras que requerem hífen...

3 comentários:

Biogás disse...

Tal como no "Fabuleux destin" essa tua caixa 'poulin' vai ser sempre a tua viagem aos miminhos da tua vida. Nunca te desfaças dela, pois quando tiveres setenta e tal basta abri-la e sentes de novo a vitalidade do 'turista da boa vontade'.
SMSes são como o papel de rebuçado: traz qualquer coisa boa lá dentro, usas como queres e largas num caixote na primeira oportunidade.

Ana disse...

Também tenho uma dessas...e tem coisas tão boas.....tenho outras com outras recordações...
Aninhas

Elisabeth Swan disse...

eu tambem ando a arranjar coragem para apagar as msg todas...mas ainda nao consegui....sempre que tento, acabo por deixar algumas...Mas já tive mais longe, isso é certo....