segunda-feira, 10 de maio de 2010

Dias de clausura e liberdade

Senti-me imediatamente melhor assim que o meu pé esquerdo tocou o passeio. Busquei por entre as fachadas dos prédios o azul marinho que nesse dia fazia as vezes de céu. O vento frio do anoitecer definiu um sorriso nos meus lábios e recuperei o passo decidido que parecia haver perdido. Não procurava um local corpóreo. Procurava apenas o etéreo sabor da liberdade. Antes de sair daquela casa, sentia-me como uma gaivota perdida. Como se o perigo no mar me obrigasse à clausura de ficar em terra. Enquanto alguém tomava banho cruzei-me com 2 livros. Através das definições de liberdade de Gandhi e Rousseau e, da dramática expressão de um jovem alemão capturada numa fotografia a preto e branco, encontrei o a porta da saída. Mal me justifiquei por me ter ido embora. A justificação seria sempre demasiado confusa mas certamente que andaria nas redondezas do Fado sagitário: "Se me queres como sou não me queiras prisioneiro..."
Apanhei-me num salão de dança, assim que o dia a seguir chegou. Concentrei-me nos passos e nas indicações das bailarinas experientes. Por mais que tentasse não havia maneira de acertar nos tempos que a música pedia. Ainda noutro dia me tinham perguntado se eu tinha andado nas danças de salão. Na altura encarei isso como um elogio. Estou certo que tinha sido um elogio. Mas nesta tarde parecia pregado ao chão. A mesma sensação da noite anterior. Olhei os outros pares a rodopiar e inquiri as minhas companheiras sobre a nossa pobre actuação. Todas me mandavam estar simplesmente calado. Sosseguei a voz e tudo pareceu mais fácil. Cheguei a fechar os olhos e no abraço de uma mulher encontrei novamente asas de liberdade. A espaço, mas sempre liberdade. Fui para casa a pensar numa frase que ouvi numa noite: Tentamos conversar mas não resultou, até que começamos apenas a falar e tudo correu melhor.
Ao terceiro dia, fui molhar os pés ao oceano. Ofereci um afago a um cachorro em jeito de presente pelos seus já sete meses de vida. Pessoas que não conhecia deram-me um colete azul para vestir. Sentei-me nervosamente na areia à espera de uma chance para me estrear naquela modalidade. As minhas primeiras intervenções foram totalmente reféns de movimento, mas fui sempre agraciado com sorrisos e mais motivação. Ganhei confiança e os pés começaram a sair do chão. Corri com toda a minha velocidade e alguém decidiu arriscar o disco na minha direcção. Não permiti que o vento me tirasse a oportunidade e lancei-me pelo ar. Agarrei o disco como se fosse a coisa mais preciosa que alguma vez tinha tocado. Assim que aterrei no chão saudaram-me efusivamente pelo meu primeiro ponto. Com excepção de mim, todos concordavam que eu estava na área de marcação. E na liberdade da decisão deles, encontrei novamente a minha.

1 comentário:

Biogás disse...

'tavas na mama?

realmente!