quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A linguagem do limão e do vinho

O tempero de um bife não é consensual. Não me estou a referir ao sal, alho, louro ou pimenta. O grande problema está na luta férrea entre o limão e o vinho. Em ambos os casos é necessária uma atenta diligência. A comunicação nada mais é que uma dose de limão e um trago de vinho.
A linguagem do limão é cáustica e directa. Para além de permitir poupar tempo, é muito empreendedora. Há quem diga até que é mais honesta. É extremamente utilizada pelas camadas mais jovens, que curiosamente pouco conhecem sobre o real alcance da mesma. No meu jogo de imagens, diria que, antes de dominarmos a quantidade de limão, devemos começar por comprar carne do cachaço, pois o lombo está extremamente caro, e seria uma pena estraga-lo com demasiado palavreado citrino.
A linguagem do vinho é nebulosa e indirecta. Aparentemente não leva a lado nenhum, mas pode conduzir a grandes feitos. Também há quem diga que seja mais verdadeira. As pessoas mais treinadas, utilizam-na com frequência, pois vivem na ânsia que os outros maduros, a compreendam. Penso que antes de embebedarmos os nossos interlocutores com a linguagem do vinho, devemos colocar-nos no seu papel, pois na maioria das vezes, começam a pensar como um pessoa de olhos em bico: "arroz outra vez??".
A batalha da linguagem irá sempre cruzar-se com o nosso caminho. Sinto um pouco de remorsos é de ter colocado o nosso bife no meio desta encruzilhada. Mais um inocente condenado às mãos de um escritor de ocasião, pensará o leitor.
Mas fique o leitor sabendo, que este escritor de tijela e meia, carrega em si, o génio culinário da D. Délia. O nosso suculento bife será mergulhado numa sangria. O limão como estará entretido a conversar com outras frutas irá finalmente relaxar. O vinho lembrar-se-á que em tempos foi um cacho de uvas, e irá levar-se a si próprio mais a sério. São servidos?

1 comentário:

Anónimo disse...

Ultimamente andas muito em sintonia com o meu estado de espírito...Começo a ficar assustado!!!